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Brasilia, DF, Brazil
Sou natural de Bom Despacho-MG. (16-7-1935) Bacharel em Letras pela UFMG, com pós-graduação na área de Educação pela PUC de Minas Gerais, além de cursos de Extensão Universitária, em Brasília, na UnB, e na Universidade de Évora, Portugal. Professor e escritor, tenho vários livros publicados, em gêneros diversos: crônica, história, biografia, conto, ensaio.

quinta-feira, 30 de abril de 2015

O que acontece nos museus do Brasil
De Brasília, museu de arte a céu aberto, ao toque dos sinos de São João Del-Rei, uma visita aos museus brasileiros.

Em Bom Despacho, o Museu da Cidade deve ser um novo espaço de conhecimento e de alegria para o povo.
 órgão do Ministério da Cultura, realizam-se vários eventos nos museus e outros centros de arte e cultura. Os motivos são diversos: 18 de maio é o Dia Internacional dos Museus, por decisão da Unesco, em Paris, enquanto, no Brasil, o Minc decidiu declarar 2006 como o Ano Nacional dos Museus. 

Ampliando os objetivos do 18 de maio, desde 2003 o Iphan promove a Semana Nacional dos Museus que, em 2006, motivou iniciativas bem interessantes em todas as regiões do Brasil, além de um estudo e uma reflexão abrangentes sobre a Museologia, inclusive nas pequenas e médias cidades do País. A Associação Brasileira de Museologia - ABM participa ativamente do evento, que tem o patrocínio da Petrobrás e da Caixa Econômica Federal.

Em Jataí, no sudoeste de Goiás - onde o ex-governador de Minas Gerais, Juscelino Kubitschek, em campanha para a Presidência da República, assumiu o compromisso de construir Brasília - , há menos de 15 anos, não existia sequer um museu. Hoje, a cidade orgulha-se de seu importante Museu Histórico, doParque Ecológico e Memorial JK, e do Museu de Arte Contemporânea, que realizam uma rica programação da Semana Nacional dos Museus. 

Em Minas Gerais, São João Del-Rei - que possui rico patrimônio cultural dos tempos coloniais e um dos museus ferroviários mais importantes do mundo - promoveu um evento interessante e criativo: a Exposição "Voando com as Pipas", brinquedos alados que enfeitam os céus. Lá existe, também, o toque dos sinos das igrejas, inestimável bem cultural do povo mineiro. Neste Ano Nacional dos Museus, São João prepara-se para, em 2007, assumir a sua condição de cidade escolhida para ser a Capital Brasileira da Cultura.

A imaginação criadora nos Museus

Brasília, museu de arte a céu aberto, além de grandes e variadas exposições sempre abertas ao público - no Centro Cultural Banco do Brasil, no Palácio do Planalto, no Teatro Nacional Cláudio Santoro e outros espaços e centros culturais - oferece a oportunidade de mostrar, no Museu do Automóvel, situado no Eixo Monumental (ao lado do Palácio do Buriti), a exposição "Automóveis de Juscelino Kubitschek", que encanta seus visitantes, principalmente os que também visitam o Memorial JK. 

No Catetinho, primeira edificação do Distrito Federal, o historiador Jarbas Marques, mineiro de Monte Carmelo e diretor do Patrimônio Cultural do DF, fez uma palestra sobre a construção da nova capital. No mesmo local, há 50 anos, Juscelino, Niemeyer e Israel Pinheiro realizavam as primeiras reuniões de trabalho da grande obra que se iniciava no Planalto Central.

Enquanto, no Rio de Janeiro, o Museu Aeroespacial apresenta o espetáculo teatral "Um vôo para Santos Dumont", em Caldas Novas, no Sul de Goiás, uma jovem aviadora, Aline Hallen, prepara-se para dirigir uma réplica do 14 Bis, construído e testado pelo seu pai, o engenheiro e empresário Alan Calassa. Depois, a morena de Caldas Novas irá voar em Paris, no Campo de Bagatelle, na tarde de 23 de outubro, exatamente no dia e local onde, há l00 anos, o inventor brasileiro conseguiu fazer o primeiro vôo de um aparelho mais pesado que o ar. Com estas iniciativas, começa a organização do Museu Aeronáutico de Caldas Novas. 

Ainda no Rio de Janeiro, o Museu da República, instalado no antigo Palácio do Catete, programou a Exposição "Memórias em Preto e Branco: JK e o Fotojornalismo". Em Petrópolis, cidade onde morou Santos Dumont, o Museu Imperial promove um espetáculo de luz e som, no estilo dos que se realizam na Acrópole, em Atenas, e nas pirâmides do Egito. Em Angra dos Reis, o Museu de Arte Sacra mostra a Exposição "O Museu no coração das crianças", com desenho e pintura que revelam o olhar infantil sobre o museu.

A cidade de São Paulo possui alguns dos mais importantes museus da América Latina, especialmente o Masp - Museu de Arte de São Paulo e o Museu da Língua Portuguesa, com seus avançados recursos tecnológicos a serviço do idioma de Camões e Guimarães Rosa. Entre os eventos da Semana Nacional dos Museus, a iniciativa do Museu Lasar Segall merece destaque especial, com a promoção de palestra e conversa de Serginho Groisman sobre o tema "O desafio dos Museus em relação aos jovens".

No interior paulista, em Amparo, o Museu Histórico abriu suas portas ao público para a realização de um projeto que satisfaz a curiosidade de muita gente: "Os bastidores do Museu - Mostra da Reserva Técnica e da Sala de Higienização". Já o Museu Ferroviário de Bauru promoveu palestra sobre a lendária Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, além de passeios de locomotiva, gincanas e atividades de recreação para crianças e jovens. Na pequena Brodósqui, o Museu Casa de Portinari lançou o Projeto Jovens Amigos, que tem o objetivo de aproximar os jovens e o patrimônio de arte e cultura da cidade. O Museu Histórico da cidade de Cruzeiro promove uma série de estudos e palestras sobre a saúde, entre os quais "Cuidados com o fogo", "O fumo e a arteriosclerose" e "Os perigos de beber moderadamente".

Ainda no Estado de São Paulo, em Jundiaí, o Museu da Companhia Paulista promove a Exposição "Saudade do Trem de Ferro", enquanto no Museu Histórico de Mogi das Cruzes, a museóloga Graziela Carbonari falou sobre o tema "Hoje qualquer Mogi das Cruzes pode ter a sua Gioconda". O Museu do Café, de Ribeirão Preto apresentou, em mesa-redonda, o tema "O jovem afro-descendente no espaço do museu". Na cidade de Rio Claro, terra de Ulisses Guimarães, o Museu do Eucalipto distribuiu material sobre os museus, durante visitas de jovens e crianças da região.

Museu Histórico de Tabapuã promoveu palestras e estudos sobre "A importância de um Museu" e "A museologia como formadora de história", terminando a programação com roda de viola, chorinho e música popular brasileira. Taubaté, cidade onde nasceu Monteiro Lobato, a Divisão Municipal de Museus organizou a "Exposição de Arte do Vale do Paraíba - Litoral Norte e Região Serrana" e a Exposição "Taubaté na História do Brasil". Na cidade de Presidente Prudente, o Centro de Museologia promoveu a visita guiada "Relação do Índio com o Meio Ambiente".

Na cidade de Goiás, mais conhecida como Goiás Velho - hoje Patrimônio Cultural da Humanidade -, o Museu das Bandeiras realizou a oficina de atualização "Os museus e o turista", enquanto a Casa de Cora Coralina promoveu mesa-redonda sobre o tema "A cidade e os museus" e a palestra "O Museu e o visitante jovem". Em Pires do Rio, o Museu Ferroviário, inovando, promoveu um desfile de moda jovem, ao som de piano e violino.

Goiânia, capital do Estado de Goiás, possui museus importantes. A UCG - Universidade Católica de Goiás mantém o Memorial do Cerrado que, além de possuir notável acervo de arqueologia e ciências naturais, tem uma vila colonial com igreja, venda, pracinha; uma sede de fazenda antiga, a réplica de um quilombo e uma aldeia indígena. O Museu Ornitológico de Goiânia, mantido pela Prefeitura, é dos mais completos de seu gênero em todo o mundo, com acervo de aproximadamente 30 mil peças: são aves e pequenos animais embalsamados da fauna brasileira e de todos os continentes. Na entrada do Museu, está a inhuma, ave brasileira de grande porte, símbolo do Estado de Goiás. 

Em Cuiabá, no Mato Grosso - onde a Igreja de N. Sra. do Bom Despacho, em estilo românico, é um de seus monumentos mais importantes -, o Museu das Bonecas e Brinquedos ofereceu palestras e oficinas diversas: "Colecionar é uma arte", "Confecção de bonecas de pano", além da gincana "Brincadeiras de antigamente". 

Museu Latino-Americano, de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, patrocinou visitas de estudantes de escolas públicas da periferia da capital, enquanto o Museu de Arte Contemporânea realizou a oficina "O universo lúdico de Conceição dos Bugres", curso de "História da Arte - do moderno ao contemporâneo" e o projeto "Lendo o Museu para o público jovem". Ainda em Campo Grande, o Museu Casa da Memória promoveu a gincana "Copa do Mundo na Alemanha". 

Casa dos Povos da Floresta, em Rio Branco, apresentou a Exposição "Povos indígenas da Amazônia acreana". Ainda na capital do Acre, o Museu da Borracha realizou o sarau "Museu e público jovem" e a Exposição "História da Música Acreana". Em Manaus, o Museu do Homem do Norte promoveu a Exposição "Museus para quê?" e patrocinou a visita de jovens estudantes ao Teatro Amazonas e a outros espaços culturais e museus da capital amazonense, proporcionando-lhes uma rara e ótima oportunidade de conhecer diferentes centros de arte e cultura.

Na capital do Pará, o Museu de Arte de Belém promoveu visita guiada com o tema "Belém, 1905: obras de Antônio Parreiras", a palestra "O público jovem em Museu de Arte", a mesa-redonda "Juventude: inclusão cultural e participação", além de patrocinar o Circuito Cultural da Juventude - visitas a outros museus e espaços culturais da capital paraense -, completando um dos melhores programas da Semana Nacional dos Museus. Em Boa Vista, capital do Estado de Roraima, o Museu Integrado promoveu a Exposição "O jovem e o Museu", mostrando o trabalho de artistas da nova geração. 

No Estado de Rondônia, em Porto Velho, o Museu da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré promove exposições fotográficas e palestras sobre a Madeira-Mamoré e suas ruínas em plena floresta amazônica. Ainda na Amazônia, o Centro de Pesquisas Museológicas de Macapá, conhecido como Museu Sacaca, apresenta o espetáculo teatral "Mitos e lendas da Amazônia". Na cidade de Palmas, no Tocantins, a mais jovem e moderna das capitais brasileiras, o Museu Histórico, conhecido como Palacinho, realizou a oficina "Implantação do Sistema Estadual de Museus" e o seminário "Público Jovem na História do Tocantins". 

Na cidade alagoana de Palmeira dos Índios, o Museu Casa de Graciliano Ramos promoveu visita guiada de estudantes de todas as escolas do Município à casa onde, durante 15 anos, morou o famoso escritor, que foi prefeito da cidade e lá iniciou sua carreira literária. Em Fortaleza, o Museu do Ceará promoveu o curso "O Museu no ensino da História", ministrado pelo professor Régis Lopes, enquanto no interior do Estado, a pequena cidade de Tauá promoveu, em seu Museu Regional dos Inhamus, a Exposição "Uma fantástica viagem ao mundo da pré-história na região de Inhamus".

Em Salvador, na Bahia, o Memorial Irmã Dulce organizou a Exposição "A juventude aos olhos de Irmã Dulce". O Teatro Castro Alves promoveu palestra da professora Heloisa Helena Costa sobre "O patrimônio cultural e os espaços contemporâneos", enquanto o professor José Antônio Saja falou sobre o tema "O museu é um lugar de todos". A Orquestra Sinfônica da Bahia, em apresentação especial, encerrou em Salvador as comemorações da Semana Nacional dos Museus.

Em Domingos Martins, no Espírito Santo, o Museu Casa de Cultura promoveu palestra de Joel Guilherme Velten sobre tema "Museu de portas abertas ao jovem", além de visitas monitoradas à exposição permanente do Museu e apresentação dos alunos da Escola de Música Helena Gerhardt. Em Santa Teresa, o Museu de Biologia promoveu palestra sobre o tema "O universo dos Museus", para as crianças que estudam na rede escolar do Município. 

Na cidade maranhense de Balsas, o Museu do Sertão instituiu o "Dia D para a doação de peças museológicas", além do Concurso Literário "A importância do Museu para a juventude". Ainda no Maranhão, a cidade de Caxias orgulha-se de possuir o Memorial da Balaiada, que preserva a memória de importante revolta popular. Na Semana dos Museus, promoveu, ainda, exposições, palestras, exibição de documentários e sessões de teatro sobre o Memorial da Balaiada e a cidade de Caxias, além do lançamento de um livro sobre a chamada Revolta dos Balaios.

Em João Pessoa, capital da Paraíba, o Museu José Lins do Rego promoveu a Exposição "70 Anos do Moleque Ricardo", baseada na obra do escritor que dá nome ao Museu, e patrocinou visita guiada ao Planetário da Cidade para o espetáculo "Noite estrelada na cidade do Pilar". Enquanto isto, na cidade paraibana de Pombal, o Dia Internacional dos Museus foi comemorado com oficinas e cursos especiais, espetáculos de folclore, teatro e apresentação de fanfarras.

Museu do Barro, em Caruaru, no sertão de Pernambuco, ofereceu oficinas de cerâmica, visitas guiadas e apresentação de vídeos em homenagem a Mestre Vitalino, o mais famoso dos ceramistas brasileiros, enquanto o Museu do Cordel promoveu uma festa bem no estilo nordestino, com muita poesia, desafio de repentistas, teatro e a melhor música sertaneja.

No arquipélago de Fernando de Noronha, o Memorial Noronhense, na pequena Vila dos Remédios, instituiu o Concurso Literário "Aprendendo para construir o futuro de Fernando de Noronha" e promoveu um bate-papo com o Grupo da Boa Idade, sem explicar, no entanto, se o pessoal é da galera mais jovem ou já se aproxima do reino da paz, como disse Cora Coralina.

Em Mossoró, no Rio Grande do Norte, o Museu do Petróleo apresenta uma exposição sobre assunto muito atual: "A auto-suficiência brasileira na produção de petróleo". Em Natal, o Museu Câmara Cascudo promoveu a Exposição "Santeiros e devoções do Rio Grande do Norte" e a sessão de teatro "Patrimônio na rua: uma farsa do Boi de Reis".

Na cidade histórica de Laranjeiras, em Sergipe, o Museu Afro-Brasileiro realizou seminários e gincanas sobre a importância dos museus na educação e fez distribuição de folhetos sobre o tema. Encerrou a Semana dos Museus com apresentação da Orquestra Sinfônica de Sergipe. Ainda no interior de Sergipe, em São Cristóvão, o Museu Arqueológico de Xingó promoveu, no Colégio de Aplicação da UFS - Universidade Federal de Sergipe, o curso "O Museu vai à Escola, a Escola vai ao Museu", encerrando as comemorações com a oficina-projeto "Férias arqueológicas" e apresentação de grupos folclóricos da região do Xingó.

Em Teresina, o Museu do Piauí está coordenando a realização de visitas guiadas a museus do Estado nas cidades de Picos, Floriano, Amarante, Piripiri, Pedro II, Oeiras e União, além de promover, na capital, apresentações de Reisado e a Exposição "Jovens Artistas Piauienses". 

O Museu Nacional da Poesia é a novidade em Belo Horizonte, com sua oficina de criação poética e divulgação multimídia da obra de grandes poetas, enquanto o Museu de Mineralogia promove palestra sobre "A História da mineração no Quadrilatero Ferrífero e seu potencial para o Turismo". No entanto, o grande destaque em Minas Gerais é o novo Museu de Artes e Ofícios, do melhor padrão internacional, sobretudo com sua notável Exposição "Trabalho e Trabalhadores do Brasil".

No interior de Minas, o Museu Histórico de Araxá promove o espetáculo teatral "Sarau com Dona Beja". Na cidade de Caeté, próxima de Belo Horizonte, o Museu de Arte Popular lança o Projeto "Santo de casa faz milagre sim!" Já em Cordisburgo, terra de Guimarães Rosa, a Casa-Museu Guimarães Rosa comemora o "Centenário do Vovô Felício", que é o escritor Vicente Guimarães, tio do autor do "Grande Sertão: Veredas". Vovô Felício escreveu o "João Bolinha virou gente", um clássico da literatura infantil e "JK, o menino de Diamantina", além de outros livros.

Divinópolis, uma das cidades mais desenvolvidas de Minas Gerais, terra da escritora Adélia Prado, destaca-se na Semana dos Museus com uma programação de caráter educativo, promovida pelo Museu Histórico, com a Exposição "Ferrovia, Siderurgia e Confecção de Roupas - Marcos da evolução em Divinópolis", além de um desfile de modas apresentando criações de artistas da cidade, que são professores e estudantes de curso superior de moda e confecções, encerrando a comemoração com um espetáculo do Dazibao - Grupo perfomático que mescla teatro, música

A cidade de Ouro Preto, Patrimônio Cultural da Humanidade, possui o importante Museu da Inconfidência, promove o seu Fórum de Museus, além de diversos e variados eventos de arte e cultura, entre os quais o Encontro Bate-Papo "Lendas e fatos da Praça Tiradentes". A antiga Vila Rica que, no período colonial, foi uma das cidades mais importantes das Américas, é hoje um centro universitário e cultural muito dinâmico. Entre os seus museus e casas de cultura, destaca-se o Museu do Oratório, o primeiro do mundo em sua categoria e uma das belas atrações turísticas da cidade.

No Paraná, a pequena cidade de Irati promove, no Museu Municipal, um mutirão para o resgate de fotos e documentos antigos, numa programação enriquecida com visitas guiadas sobre a memória histórica e o patrimônio cultural da cidade. Em Maringá, o Museu da Universidade Estadual organiza exposição sobre a cidade, com o tema "Do pioneirismo aos tempos atuais". Em São José dos Pinhais, vizinha de Curitiba, o Museu Municipal lança o livro "II Guerra Mundial", da historiadora Carmen Rigoni. 

Em Concórdia, Santa Catarina, o Memorial Attílio Fontana promove a Exposição "Os segredos de uma boa fotografia" e uma oficina sobre "Duvidas a respeito da fotografia artística", enquanto na cidade de Caçador, o Museu Histórico e Antropológico apresenta a Mostra "Antigo Egito: uma cultura milenar". Na capital, Florianópolis, o Museu de Arte de Santa Catarina - Masc lança, na internet, a sua nova página eletrônica e promove palestra e estudos sobre o tema "Museus de Arte: das origens à modernidade". 

Na terra do poeta Mário Quintana, a cidade gaúcha de Alegrete, o Museu Mário Quintana mantém exposição permanente sobre a obra do escritor, enriquecida com objetos de seu uso pessoal. Promoveu, também, uma exposição da fotógrafa Dulce Helfer sobre o tema O cotidiano do poeta". No Dia Internacional dos Museus, Caxias do Sul apresentou uma novidade em seu Museu Municipal, com a oficina "Seja museólogo por um dia", enquanto na cidade de Rio Grande, o Museu dos Capuchinhos organizou a mostra didática: "A religiosidade católica e os seus símbolos".

Os museus de Uruguaiana, no extremo sul do Brasil - Museu Histórico e Artístico, Museu Criolo e Museu Didacta - organizaram-se e, conjuntamente, promoveram palestra sobre o tema "JK - A minissérie da televisão sob o olhar da História" e organizaram a oficina "Conservação de Documentos em Suporte de Papel." Já o Museu do Calçado, em Novo Hamburgo, montou a Exposição "Chuteiras: Copa do Mundo", no momento em que o Campeonato Mundial de Futebol, na Alemanha, empolga e emociona cidadãos de todos os continentes e países.

Na cidade gaúcha de São Borja, terra de dois Presidentes da República, o Museu Getúlio Vargas promove palestras e projeção de filmes sobre a trajetória de Vargas, envolvendo, também, a figura de outro filho da terra, o presidente João Goulart, mais conhecido como Jango, sucessor de Jânio Quadros no Palácio do Planalto.

Ainda no Rio Grande do Sul, a cidadezinha de Bom Jesus surpreende o Brasil com projetos criativos e bem interessantes, no Museu Municipal: "Conhecendo a história através da música", "Música no Museu" e "Os jovens se comunicando através dos tempos". Para encerrar a programação, os jovens que não têm acesso fácil à internet participam da "Visita aos museus mais importantes do Brasil e do mundo."

É interessante verificar a diversidade dos eventos realizados em todas as regiões do Brasil, numa prova evidente de que os museus brasileiros estão vivos e atuantes. Em todo o Pais, outros museus e centros culturais realizaram - e realizam - projetos importantes que precisam ser divulgados e conhecidos.

Foi muito feliz o Sistema de Museus do Rio Grande do Sul ao definir, entre as ações e projetos desenvolvidos na Semana dos Museus, no período de 15 a 19 de maio, aquela diretriz que pode - e deve - ser uma política de Estado e de Governo, em todos os níveis: "Museu: toda cidade merece ter o seu". 

Bom Despacho, Minas Gerais - o Museu da Cidade prepara-se para o futuro

A cidade de Bom Despacho fica situada a meio caminho entre Araxá e Belo Horizonte, na direção da Serra da Saudade. É uma pequena capital da região que vai das nascentes do Rio São Francisco até o grande lago de Três Marias. A povoação tem sua origem nos fins do século XVIII, quando colonizadores portugueses, naturais do Minho, fundaram a pequena aldeia de Nossa Senhora do Bom Despacho, nas encostas de três colinas, lugar muito pitoresco pela beleza e amplidão de seus horizontes.

Modernamente conhecida como a cidade da Senhora do Sol, Bom Despacho tem, na Museologia, uma interessante história de pioneirismo. Uma locomotiva-monumento, a Maria Fumaça, é a primeira peça do Museu Ferroviário, em organização por iniciativa de ferroviários de empresas que sucederam a antiga Estrada de Ferro Paracatu. 

A sede, os escritórios e o setor residencial dos engenheiros, técnicos e operários da antiga Estrada de Ferro é a Vila Militar do 7º Batalhão da Polícia Militar de Minas Gerais, desde as primeiras décadas do século XX. É uma cidadezinha-museu, de arquitetura inglesa, cercada de pequenas muralhas, onde destacam-se a bela residência senhorial do comandante, alguns bangalôs, um coreto em estilo chinês, uma igrejinha, áreas verdes - e um quartel que mais parece um palácio. 

No Quenta-Sol, periferia de Bom Despacho e antigo lugar de população negra ? rico em lendas e tradições afro-brasileiras ?, um acervo de peças dos tempos da escravidão e dos quilombos está sendo organizado para formar o Museu do Negro.

No primeiro governo do prefeito Haroldo Queiroz (1997-2000), a cidade viveu um período de expressivo desenvolvimento, especialmente nas áreas de educação, cultura e lazer. Com isto, um pequeno grupo de voluntários instituiu o Museu da Cidade-MdC, que hoje funciona no interior de um prédio da Prefeitura, na Avenida Ari Marques, ao lado do Paço Municipal Antônio Leite, no centro da cidade.

Inaugurado com uma solenidade especial, no dia 30 de maio de 1998, na abertura das comemorações do 86º Aniversário de Bom Despacho, o Museu da Cidade é uma iniciativa de Nilce Coutinho Guerra, artista plástica e professora de Educação Artística, formada pela UnB-Universidade de Brasília, que idealizou e organizou o Museu, num trabalho voluntário, colocando a serviço da comunidade seus conhecimentos, estudos e experiências na área da Museologia. 

O empreendimento tornou-se realidade em parceria com a Prefeitura, através da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, e o apoio de algumas instituições, empresas e famílias de Bom Despacho, destacando-se os recursos humanos e a estrutura administrativa da Biblioteca Municipa.

A solenidade de inauguração do MdC, contou com a presença, ao lado das autoridades municipais e lideranças da cidade, de uma delegação oficial de Vila Verde, Portugal, cidade irmã de Bom Despacho, situada na província do Minho, região de onde vieram os colonizadores da cidade da Senhora do Sol. 


O MdC consolidou-se com a fundação da Associação Museu da Cidade-AMC, instituída em 3 de maio de 1999. O presidente da AMC é o empresário Julio Benigno Fernández, cidadão argentino que mora em Bom Despacho e atua na indústria de produtos com pedras semi-preciosas. Natural de Concepcion, Norte da Argentina, Julio Fernández residiu muito tempo em Buenos Aires e depois em São Paulo, adquirindo grande experiência de Brasil e uma visão cosmopolita da cultura.

A fundadora do Museu, Nilce Coutinho Guerra, exerce as funções de diretora e representante da AMC em Brasília, responsabilizando-se pelo planejamento de ações administrativas de natureza técnica e pela supervisão de atividades e coordenação de eventos especiais.

Nilce Coutinho afirma que "o Museu precisa de recursos financeiros para aquisição de equipamentos de segurança e manutenção, vitrines especiais, armários para a Reserva Técnica. Necessita, ainda, de mais funcionários, de estagiários, especialmente de Museologia, História, Turismo, Ciências ? e de voluntários de profissões diversas, interessados nas questões de patrimônio cultural e artístico da cidade". Afirma a diretora do Museu que "em ocasiões especiais, principalmente na promoção de eventos, os voluntários poderão oferecer alguns horas de trabalho em benefício do Museu, num exercício de cidadania que será devidamente registrado e divulgado". 

A museóloga espera, também, que a AMC tenha condições de ampliar o seu quadro de sócios, não só com moradores de Bom Despacho, mas também com cidadãos bondespachenses e amigos da cidade residentes em outros lugares, sobretudo em Brasília e Belo Horizonte. A diretora do Museu da Cidade espera que a sociedade organizada dê um forte apoio à AMC, em sua tarefa de manter e desenvolver uma instituição importante na preservação do patrimônio cultural e da memória histórica da cidade. Nilce Coutinho, em seu planejamento do Ano Nacional dos Museus propõe a realização, a partir de 2006, de uma campanha permanente de doação, ao Museu da Cidade, de peças e documentos de valor histórico e artístico, que serão devidamente registrados e incorporados ao acervo, com o nome de seus doadores. 

Atualmente, integram os órgãos de direção e o Conselho Deliberativo da AMC, cidadãos atuantes na comunidade, entre os quais o padre Robson Teixeira Campos, o engenheiro Renato Campos, o empresário Ricardo Alvarenga, os professores Ademar Garcia de Carvalho e Maria da Conceição Costa, a funcionária municipal Maria Avelina de Jesus e outros voluntários, especialmente Geraldo Pereira de Melo, Maria Eulália Eleutério e João Batista da Silva. 

Numa visão contemporânea, a equipe do MdC entende que "Museu é um espaço de arte e cultura que, utilizando recursos e linguagens modernas, oferece às pessoas a oportunidade de observar, admirar e estudar documentos peças, objetos, saberes e experiências que comprovam as conquistas do homem através dos tempos" ? e que "O museólogo estuda o passado numa relação dinâmica com o presente. O seu objetivo é o futuro, com as exigências cada vez maiores de domínio dos conhecimentos e das técnicas que constroem as civilizações."(Jacinto Guerra e Nilce Coutinho) 

O Museu da Cidade possui, em seu acervo, variado material que documenta fases da historia da cidade; de personalidades que marcaram passagem e deram exemplos de cidadania, além de objetos de outros paises e de todo o Brasil. Duas peças, um quadro a óleo da Matriz de Bom Despacho, de autor desconhecido, e um grande vaso de cerâmica pré-colombiana, com ossadas humanas, encontrado na Fazenda Indaiá, nas imediações da cidade, integram a relação de bens tombados pelo Conselho Municipal do Patrimônio Cultural.

Na opinião de Ângelo Oswaldo de Araújo, atual prefeito de Ouro Preto, que fez uma visita oficial a Bom Despacho, em 1999, quando era Secretário de Estado da Cultura, "uma das características mais interessantes do Museu da Cidade é a diversidade de seu acervo, que sinaliza perspectivas empolgantes".

De fato, nesse Museu, algumas surpresas aguardam, principalmente, os turistas, que poderão conhecer registros da cultura afro-brasileira, como a Língua da Tabatinga, objeto de tese universitária e um livro da professora Sônia Queiroz, da UFMG - e matérias sobre o trabalho das lavadeiras da Biquinha, que constituem saberes e conhecimentos do patrimônio imaterial de nossa cultura. Os estudos de Sônia Queiroz têm repercussão internacional e, nos meios universitários, a Tabatinga, periferia da cidade, é mais conhecida que a própria Bom Despacho. 

O Museu possui desde peças muito antigas como um tronco de madeira petrificada há milhões de anos e a Igaçaba da Fazenda Indaiá, com mais de mil anos, até produtos de indústrias modernas do Município: o mobiliário do próprio Museu e artigos com pedras semipreciosas, que são exportados para diversos países, além de peças de valor histórico e artístico preservados na Bom Despacho contemporânea. 

Encontra-se representado, no Museu da Cidade, o Reinado de Nossa do Rosário, uma tradição centenária, também conhecida como Congado ou Festa do Rosário, que o Correio Braziliense considerou como uma das festas populares mais belas do interior do Brasil.

O visitante poderá, também, conhecer e admirar obras interessantes do artesanato de Bom Despacho e de Vila Verde, Portugal, especialmente o Lenço dos Namorados, bela tradição daquela cidade do Minho - e objetos de outras regiões do Brasil e de países como a Argentina, o Peru, a Bolívia e a Grécia. 

A Exposição de Arte Infantil, o Concurso de Presépios e a Mostra de Arte da Juventude são eventos que o MdC promove anualmente. Além de seu valor educativo, atraem a atenção da mídia e divulgam a cidade, tendo o Museu e seus eventos conseguido espaço, inclusive na Rede Globo de Televisão, no Estado de Minas e na revista VEJA, sendo que, em 2005, o Concurso de Presépios de Bom Despacho foi divulgado na Rádio Vaticano, a emissora do Papa. 

Para assegurar o desenvolvimento e a permanente atualização do Museu da Cidade, o presidente da AMC, Julio Fernández, entende que "é necessário parcerias mais amplas, principalmente com os órgãos municipais de Educação e Cultura". 

A Associação Museu da Cidade defende e propõe convênios com o Sesc-MG - Serviço Social do Comércio de Minas Gerais, que possui, na cidade, um grande centro de turismo, cultura e lazer, e com a Unipac-Universidade Presidente Antônio Carlos / Campus de Bom Despacho, instituições cujos objetivos se completam e se enriquecem com as finalidades de um Museu ativo e moderno que, em 2008, estará comemorando o seu 10º aniversário. 

Atualmente, o MdC encontra-se instalado num imóvel que não permite o seu desenvolvimento, uma vez que o espaço disponível não comporta qualquer ampliação de serviços. Considerando o interesse do prefeito Haroldo Queiroz em resolver, em caráter definitivo, o problema de espaço físico do Museu, a AMC trabalha no sentido de construir um prédio para esta finalidade.

Em Bom Despacho, os imóveis de valor histórico e artístico, que são mais adequados à instalação de um Museu, abrigam outras instituições ou pertencem a particulares, que neles ainda residem. Desta forma, a AMC pretende colaborar com a Prefeitura no sentido de conseguir a aquisição de um terreno para a construção do Museu, em local de fácil acesso aos turistas e moradores da cidade, especialmente pessoas idosas ou portadoras de necessidades especiais.

Conseguido o terreno para as obras do Museu, a idéia é promover um Concurso de Arquitetura para a escolha do melhor projeto de uma construção, ao mesmo tempo, moderna, funcional e de baixo custo. 

De posse do terreno e do projeto arquitetônico, uma Comissão Executiva de alto nível, presidida pelo Prefeito e integrada por representantes da AMC e da sociedade civil, deverá encarregar-se de coordenar uma grande campanha de captação de recursos ? verbas públicas, apoio empresarial e contribuição do povo, com pequenas doações e trabalho voluntário ? para, até fins de 2008, construir e inaugurar o MdC num prédio de arquitetura moderna, que deverá ser um espaço de conhecimento, de alegria e de entusiasmo do povo. 

Em Bom Despacho, o Museu da Cidade tem uma frase-símbolo garimpada na poesia de Carlos Drummond de Andrade: "Depois da cidade, o mundo; depois do mundo, as estrelas".

(Texto elaborado com a colaboração de Nilce Coutinho Guerra e pesquisas na programação da Semana Nacional dos Museus / Iphan / Ministério da Cultura, arquivo do Museu da Cidade / Bom Despacho, MG e no Correio Braziliense ( 26-5-2006, página 32, "A filha da aviação", reportagem de Renato Alves). 

Jacinto Guerra, professor, escritor e estudioso de Museologia, foi Secretário de Cultura e Turismo de Bom Despacho no primeiro governo de Haroldo Queiroz (1997-2000), quando se instituiu o Museu da Cidade. É Secretário-Geral e membro da Representação da AMC em Brasília. 

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JACINTO GUERRA, mineiro de Bom Despacho, é autor de ensaios e biografias como o JK-Triunfo e Exílio-Um estadista brasileiro em Portugal, além de outros livros, entre os quais O gato de Curitiba - crônicas de viagem e outras histórias, editados pela Thesaurus, em Brasília.


quarta-feira, 18 de julho de 2012


  EM PORTUGAL, SURPREEENDENTE LIVRO DE UM BRASILEIRO

*Jacinto Guerra

Nos últimos dias, tive a oportunidade de ler um romance que atraiu minha atenção, página por página, interrompendo a leitura somente quando não era possível continuar, em razão de outras atividades também interessantes e importantes.
Esse livro foi um dos finalistas do primeiro Prêmio Leya, honraria literária das mais importantes da Europa. Trata-se do romance “Eu, Peter Porfírio, o Maioral”, de Alaor Barbosa, escritor brasileiro que divide o seu tempo entre Goiânia e Brasília. Editado em Portugal pela Dom Quixote, editora do Grupo Leya,     e lançado em Lisboa, em Coimbra e no Porto, “Peter Porfírio” já está a caminho das livrarias do Brasil e de outros países.

Natural de Morrinhos, no Estado de Goiás, com raízes familiares em Minas Gerais e São Paulo, Alaor Barbosa tem ricas experiências de vida e de trabalho, também, no Rio de Janeiro e em Brasília. Suas origens e experiências diversas, aliadas ao seu gênio literário, deram-lhe as condições de escrever um romance tão interessante, rico e divertido como esse que encantou os editores europeus, tanto que mereceu até um prefácio do angolano Pepetela, um dos grandes escritores da Língua Portuguesa.
O personagem principal é Peter Porfírio, fazendeiro do interior de Goiás, homem do sertão, ilustrado com algumas leituras e conhecimentos num ginásio do Prata, pequena cidade do Triângulo Mineiro. Mas é sujeito dotado de inteligência e sagacidade que o fizeram capaz de vencer dificuldades enormes e ganhar muito dinheiro.

O cenário de sua história é o universo do interior de Goiás, com a sua capital, Goiânia; a grande São Paulo; cidades do interior paulista; uma região do Mato Grosso; a maravilhosa cidade do  Rio de Janeiro – e Brasília, nos primeiros tempos da nova capital brasileira.
Pois bem, Peter Porfírio - sujeito muito bom de negócios - ganhou tanto dinheiro engordando e vendendo bois, que acabou dono de grandes fazendas – e até de um avião para administrá-las com mais conforto e facilidade.

Pepetela diz que, nesse livro, o escritor recupera “uma linha seguida por alguns grandes autores brasileiros”, dando a palavra a um “coronel”, que “acredita ser bem intencionado” – e tem tudo para divertir” o leitor, “ao mesmo tempo que dá preciosas indicações sobre os negócios e a vida na época escura da ditadura militar”brasileira - período que Alaor Barbosa viveu intensamente em sua juventude no Rio de Janeiro e  no interior de Goiás.

Tendo enriquecido como poucos de sua geração, Peter Porfírio decide ampliar seus negócios com um lance de muita ousadia: comprou um pequeno banco em Goiânia, um “tamborete”, como ele próprio definiu.
Apesar de sua cultura limitada, o fazendeiro Peter tornou-se um homem viajado, até com um perfil de executivo moderno, se bem que meio caricato. Foi até aos Estados Unidos e não há de ver que aprendeu muita coisa por lá.

Nesse romance originalíssimo, o escritor viaja com muita segurança pelo que há de melhor no folclore brasileiro, na cultura universal, especialmente de nossa Língua Portuguesa, e na linguagem oral do nosso povo, que ele tão bem conhece.
Em síntese, esse “Eu, Peter Porfírio, o Maioral” é um livro escrito para o prazer e a cultura do leitor brasileiro, europeu, latino-americano – ou de qualquer parte do mundo em que haja algum interesse pelo Brasil, sua história, seu povo, suas tradições.
Quanto ao Peter Porfírio, com suas qualidades e seus defeitos, é um personagem inesquecível, que não sairá jamais da memória do leitor. Ficará para sempre lembrado como uma grande figura dos livros editados em nosso mundo da Língua Portuguesa, personagem digno da literatura de um Fernando Sabino, um Guimarães Rosa, um Eça de Queiroz, um Machado de Assis.

* Jacinto Guerra, brasileiro de Bom Despacho-MG, bacharel em Letras pela UFMG, é professor e escritor com vários livros publicados, entre os quais “O Cavaleiro Andante – viagens mundo afora” (Thesaurus, Brasília, 2011).



sábado, 18 de fevereiro de 2012

UM CARNAVAL DIFERENTE

Jacinto Guerra


Despertou grande interesse entre os alunos da Universidade de Colúmbia, em Washington, a aula de um professor latino-americano sobre o tema Bom Despacho, suas atrações turísticas e sua vida noturna.O leitor que já viajou para estas bandas do Rio São Francisco – nos caminhos de Lagoa da Prata, Santo Antônio do Monte, Moema, Dores do Indaiá e outros lugares – pode estar achando que isto é conversa fiada. Dizem que nenhuma das nossas
cidades tem prestígio nacional. Internacional, então, nem se fala.

Mas é verdade. Quem fez esta conferência de tanto sucesso nos
Estados Unidos foi o Mozart Foschete, assessor da Câmara dos Deputados, em Brasília. Uma testemunha ocular desta história é o pesquisador Edmílson Caminha, que deve ser parente do Pero Vaz de Caminha, escrivão-mor da Descoberta do Brasil.

Como eu ia dizendo, o Caminha, meu novo companheiro de infância, é tão amigo de Bom Despacho que foi descobrir em fins do século XIX, lá em Fortaleza, no Ceará, um poema do José d' Avó Gontijo, príncipe da poesia bondespachense. Mas nem o Foschete nem o Caminha falaram ou escreveram sobre o Carnaval de Bom Despacho, um assunto capaz de despertar a maior curiosidade pelo mundo afora.

O nosso Carnaval é uma festa popular mesmo, como acontece na Bahia, em Pernambuco e no Rio de janeiro. É uma tradição fortemente ligada às nossas raízes municipais e regionais. Tem "caráter muito lúdico e artístico", como lembra a artista plástica Nilce Coutinho. Por sua vez, o Itamar – não o Presidente da República, mas o jornalista Itamar de Oliveira – fez uma
interessante análise do Carnaval bondespachense, numa visão sociológica e política. Com sua autoridade de professora de grande prestígio, Auxiliadora Guerra observa, principalmente, o aspecto educativo e cívico da nossa maior festa popular.

Nestas alturas, acredito que o leitor pode estar desconfiado e curioso. Se for o caso, calma que o desfile das escolas de samba, o caminhão elétrico e a turma do frevo não demoram a surgir na Marquês de Sapucaí, quer dizer, na Rua do Rosário, que hoje tem o nome do Dr. Miguel Gontijo, uma importante figura de nossa História.

Tradição muito antiga, quem abre o desfile principal é sempre um boneco gigante: o Picão Camacho, primeiro homem civilizado a pisar nestas paragens de Minas Gerais. Picão Camacho e os outros bonecos que representam os colonizadores portugueses foram criados e montados por artesãos de Bom Despacho. Eles aprenderam esta arte com bonequeiros do Nordeste.
Depois, sob os aplausos do povo, na Praça da Inconfidência, na Avenida das Palmeiras e na Praça da Matriz, vão chegando os Zé-Pereiras dos bairros e povoados, disputando a honra da melhor apresentação.

Fui conhecer mais de perto o Zé-Pereira com o grande folclorista Luís da Câmara Cascudo, lá de Natal, Rio Grande do Norte. Conhecido no Brasil desde os meados do século XIX, principalmente em Ouro Preto e no Rio de Janeiro, o Zé-Pereira é de origem lusitana, muito popular no Norte de Portugal, justamente a região dos primeiros bondespachenses. Trata-se de um pequeno grupo de foliões que canta e bate o bumbo freneticamente, num ritmo alegre e forte:

"Viva o Zé-Pereira!
que a ninguém faz mal!
Viva o Zé-Pereira!
No dia do Carnaval!"

À frente do grupo, dança um boneco grandalhão: o Zé-Pereira, português típico do interior, boa gente que ajudou a construir o Brasil com muita luta e trabalho. A turma do Zé-Pereira apresenta-se anunciando a chegada do Carnaval, continua nos três dias da festa, e volta às ruas em ocasiões especiais.

Quando o ex-presidente Juscelino Kubitschek visitou o interior de Portugal, recebeu grande homenagem dos Zé- Pereiras de aldeias e cidades da Beira, na região da Serra da Estrela.

Mas voltemos ao Carnaval de rua, em Bom Despacho. No sambódromo da Miguel Gontijo, desfilam escolas de samba e blocos da Cruz do Monte, da Biquinha, da Tabatinga, da Rua da Olaria, do Quenta-Sol. Na Vila Aurora, todo mundo levantou mais cedo para começar a folia. Da Rua do Céu e do Campo de Aviação, desceu gente quase voando de tanto entusiasmo com a festa.

Em cima de um carro alegórico, os foliões do Engenho do Ribeiro vieram ensinando o fabrico da rapadura e da garapa. Trouxeram até um alambique para fazer cachaça na rua, mas desistiram da idéia, para não incentivar o vício da bebida. Por falar em rapadura, os barzinhos da Miguel Gontijo venderam muito aquelas mini-rapaduras do tamanho de uma caixinha de fósforos, lançadas com sucesso em Montes Claros.

Outras alegorias lembravam os garimpos de cristal, a chegada dos
colonos austríacos e alemães, a influência dos negros, dos italianos e dos libaneses na formação da cidade, a nobreza dos espanhóis que vieram para a região; as primeiras cabeças de gado originárias das Ilhas de Cabo Verde, a avicultura, a plantação de laranjas, a indústria de confecções, a siderurgia, a indústria de tecidos, a fabricação de móveis. Fecha-se o desfile com os meios de transporte: um carro-de-bois, todo enfeitado – e gente da roça tocando viola.
Depois, os ferroviários, com a Maria Fumaça apitando. Um carrinho alegórico enguiçou na Rua Vila Rica, perto da Biquinha.
Fico tão emocionado que até me esqueço de muita coisa. O pessoal das empresas de reflorestamento fantasiou-se de árvores com troncos, galhos, folhas e tudo. Atrás do caminhão elétrico vem o povo cantando e dançando. Jovens e velhos, na maior alegria e descontração.

Foi um sucesso danado a turma do frevo, que aprendeu a dançar em Pernambuco. Logo depois vieram os cavaleiros fantasiados, prestando homenagem à cidade de Bonfim, Minas Gerais, onde existe o antigo Carnaval a Cavalo. Foi idéia do Elias Rodrigues, mais conhecido como Nego do Engenho. Como o dono do boi é que pega no chifre, foi o Elias mesmo que ficou à frente da Cavalhada. A coisa foi tão interessante que parecia até uma pequena mostra das Cavalhadas de Pirenópolis, em Goiás, representando as lutas entre cristãos e mouros na Península Ibérica.

Com muito brilho, o povo da Prata fez questão de enriquecer o desfile lembrando os bandeirantes na procura de ouro e outras riquezas. Da Lagoa Verde e da Piraquara vieram as mensagens mais fortes em defesa do meio ambiente. As mulheres mais bonitas desfilaram jogando flores na multidão.

O pessoal do Mato Seco botou mais lenha na fogueira e a folia esquentou mesmo. Mas é importante registrar que se verifica, com êxito, um grande esforço das autoridades para evitar qualquer excesso ou perturbação da ordem. Neste calor, você merece uma cerveja, mas uma espécie de Lei Seca é obedecida por quase todos. O pessoal toma um refrigerante, e olhe lá... Tem gente que prefere um copo de leite, suco de maracujá ou chá de erva cidreira.
Por estas e outras razões, até o bispo de Luz e os padres de Bom Despacho viram com simpatia o nosso Carnaval.

De manhã, um turista que estava modernamente arranchado no Hotel JB foi procurar palmito na Rua do Palmital e ficou a ver navios, porque lá não tem mais palmito nenhum. Outros buscaram a sorte jogando moedas de dólar na fonte da Biquinha. Depois visitaram o Museu do Soldado e ficaram encantados com tudo que viram na Vila Militar, que parece uma antiga cidadezinha inglesa, cercada de pequenas muralhas. Ficaram admirados com o Monumento ao Garimpeiro e sua pedra de cristal brilhando ao sol. Gostaram, também, dos Moinhos de Vento na Praça São José e, principalmente, do Centro Dr. Juca de Comércio, Lazer e Cultura, no antigo Cine Regina.

Com a paisagem dominada pelo esplendor da manhã, foram ao
miradouro da Cruz do Monte – e de lá viram as portas do sol abertas sobre a cidade e os seus arredores cheios de verde dos quintais e das fazendas. No meio da tarde, foram para o lpê Campestre Clube, um orgulho da cidade e da região.

O que se faz em Bom Despacho é a experiência de um Carnaval
moderno, voltado para os valores mais nobres do nosso povo. Foi tudo estudado, planejado, discutido ao longo de meses na Fundação Cultural, nas escolas, na Prefeitura e até na Associação Comercial e nas assembléias dos bairros.

Na Câmara Municipal, o assunto foi objeto de muita discussão,
com os debates mais acalorados entre os vereadores do PT (Partido dos Trabalhadores) e do PFL (Partido da Frente Liberal). Um ilustre parlamentar municipal defendeu a realização de um plebiscito para consultar se o povo queria ou não a realização do Carnaval com dinheiro da Prefeitura. Aproveitando o gancho da discussão, um vereador formado em Letras recomendou, na tribuna, a leitura do conto O Plebiscito, de Artur Azevedo, escritor maranhense que foi muito popular no Brasil inteiro.

Na Praça da Matriz, houve uma discussão danada a respeito da
possível participação dos congadeiros. Mas prevaleceu o bom-senso. O problema foi resolvido por uma comissão de alto nível, formada pelo padre Vicente Rodrigues, o Dunga, capitão do Reinado, e um representante dos dançadores. Congado ou Reinado é festa religiosa, enquanto o Carnaval é profano. Os congadeiros resolveram que só dançam na Festa do Rosário e no Festival do Folclore.

A Capoeira, mistura de dança e de luta, fez muito sucesso no eixo
Praça da Matriz – Rua Miguel Gontijo – Avenida das Palmeiras. O vigário proibiu, com toda razão, qualquer dança profana no adro da belíssima Igreja de Nossa Senhora do Bom Despacho. Mas permite a Dança do Rei Davi, de inspiração bíblica. Alguns paroquianos querem também a Dança de São Gonçalo, uma idéia que trouxeram lá de Amarante, em Portugal. Tudo isto, em épocas especiais, fora do Carnaval.

A Catira foi outro sucesso, com o alegre sapateado dos catireiros de Martinho Campos, todos homens, como determina a tradição aqui no Alto São Francisco. Mas quando as feministas souberam que em Goiás as mulheres dançam Catira, foi um deus-nos-acuda. Protestaram e garantiram participar efazer bonito no próximo Carnaval.

Em Bom Despacho, quem comanda a folia é o prefeito Célio Luquine, que lembra o Gustavo Krause quando governava o Recife e fazia questão de participar do Carnaval de rua. A Comissão de Frente tem gente de peso: Zuca Lobato, Sandra Gontijo e Tadeu de Araújo Teixeira, além da Sebastiana da Tabatinga, representando o povão.

No desfile da Miguel Gontijo, apareceram críticas ao Governo, com o teatro de mamulengo em rápidas apresentações, satirizando o abandono da educação, o custo de vida, a falta de segurança e os outros problemas sociais. Um pequeno grupo de moças e rapazes fantasiados de figuras da nossa História chamaram a atenção para a memória regional e defenderam a instituição do Museu da Cidade no castelinho da Rua Faustino Teixeira, onde funciona o escritório da Cemig (Cia. Energética de Minas Gerais). Este prédio histórico fica bem no coração da cidade. Lembra a Torre de Belém em Lisboa. O novo museu será um moderno espaço destinado à educação, à ciência e à cultura.

A novidade mais criativa desse ano foi o aparecimento do Bloco do
Sebo, formado por escritores, jornalistas e leitores. Vem gente de Belo Horizonte, de Brasília, de Divinópolis e até do Rio de Janeiro para entrar e se divertir no Sebo. O nome vem do tipo de livraria que vende livros velhos, raros e usados. Com brincadeira e folia, o pessoal quer chamar a atenção para a Biblioteca Municipal e a Feira do Livro. O mote dos foliões foi uma frase do poeta Affonso Romano de Santanna: "Somente através do livro e da leitura chegaremos um dia ao Primeiro Mundo". Os imortais da Academia
Bondespachense de Letras quase morreram de emoção e de alegria, quando viram tanta gente aplaudindo os escritores, a leitura e os livros.

Neste Carnaval, quase ninguém ficou dentro de casa. Só os moradores do elegante Bairro São José, antigo Arraial dos Lobos, construído nos terrenos do Calais. Em seus palacetes, bangalôs e casas nobres, acompanharam a festa pela TV de última geração, com antena parabólica e tudo, usando o computador, o telefone celular e outras maravilhas eletrônicas da indústria japonesa.

Na periferia da cidade, onde a vida é muito melhor do que nas favelas do Rio de Janeiro, até quem não saiu de casa divertiu-se a valer, ouvindo rádio e dançando, inclusive o samba no pé. Na sacada do Hotel Glória e nas janelas da Rua da Liberdade, muita gente foi se divertir com a barulhada alegre dos Zé-Pereiras. A TV Bom Despacho e as emissoras de rádio transmitiram tudo, via satélite, para o país inteiro. Entre os turistas que participaram da festa na rua, encontramos gente de Fortaleza; de Imperatriz, no Maranhão; de Curitiba; de Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul, e até dos Estados Unidos e da Suíça.

O nosso carnaval já foi cantado em prosa e verso pelos melhores
escritores da terra. Alírio Silva está escrevendo um conto sobre o assunto e a Sônia Queiroz segue a mesma trilha, nos caminhos do ensaio e da poesia.

Na Praça São José, na Rua dos Operários e no Largo do São Pedro,
a Prefeitura mandou instalar telões de televisão para o povo. Lá a multidão aplaudiu Daniela Mercury dançando e cantando em cima de um trio elétrico, em Salvador, e na maior felicidade acompanhou o Salgueiro:

"Peguei um lta no Norte
e fui pro Rio morar.
Adeus, meu pai, minha mãe,
Adeus, Belém do Pará.”

Por hoje chega, que já é Quarta-Feira de Cinzas. Fica tudo para o
próximo Carnaval. Em Bom Despacho, é claro.

Jacinto Guerra, mineiro de Bom Despacho e morador de Brasília, é autor de vários livros, entre os quais “O gato de Curitiba – crônicas de viagem e outras histórias” (Brasília, 2004, 2ª edição) – Prêmio BDMG Cultural de Literatura/Banco do Desenvolvimento de Minas Gerais.
SÔNIA FERREIRA E O ENCANTAMENTO DE UM LIVRO
 
*JACINTO GUERRA

A pátria pequena de Sônia Ferreira é Orizona, Estado de Goiás, território de sonho, memória e poesia, onde se encontram os caprichos da natureza e os valores mais legítimos do povo brasileiro. Vivendo na província e na metrópole, a escritora está sempre em Goiânia e Brasília, cidades que representam o Brasil em sua grandeza e suas mazelas, destacando-se, sobretudo nas artes, especialmente na arquitetura, no urbanismo e na literatura.

Cronista e poeta que domina gêneros diversos, nos escritos de Sônia a poesia floresce como as plantas e flores que admiramos em muitos lugares deste Planalto Central do nosso país. Mestra das letras, com um estilo muito pessoal, em que forma e conteúdo identificam-se com o Brasil do interior, sem esquecer a cidade grande com suas belezas e misérias, também.

Ao ler a obra de Sônia Ferreira, o leitor encontra uma literatura de qualidade, que lembra Cora Coralina, Cecília Meireles e Adélia Prado. De Cora, as coisas simples e belas da terra e do povo de Goiás; de Cecília, a clareza do estilo, a beleza do texto, a universalidade – e de Adélia, a criatividade, o vigor de expressão e a religiosidade. Parece que a bela cidade de Goiás Velho, o sempre lindo Rio de Janeiro e a mineira e desenvolvida Divinópolis encontram-se, de alguma, na poesia da escritora de Orizona, Goiânia e Brasília.

Sônia foi muito feliz ao escrever e viver os poemas desse Encantamento (LGE Editora, Brasília, 2011), que conquista o leitor pela clareza das ideias, aliadas ao vigor e a beleza do arranjo das palavras no texto literário. Já no primeiro poema, em que encontramos o próprio título do livro, "o encantamento/ liberta/ como a alegria/ das janelas/ a euforia/ das borboletas/ e dos pássaros/ de asas abertas."

No poema "Santa Ceia", o sagrado e o místico tecem a urdidura da poesia:

"Ali, na areia,
há babados
de espumas
flutuantes.

Ali, na areia,
há sentimentos
orações reverentes

(...) Há andarilhos,
apóstolos viandantes."

Noutro poema, Sônia diz que
"Deus falou
encantado
atirou um
beijo no mundo
e virou

beija-flor."

"Depois,
Francisco, o Santo,
calçou
suas sandálias
e se disfarçou
num raio de sol."

Como o objetivo desse texto é oferecer visão rápida de um livro encantador, deixo para o leitor a oportunidade de descobrir, por si próprio, outras belezas e valores de uma poesia escrita com o coração de uma brasileira notável pelo seu talento e sua presença
na vida cultural de sua região e de seu país.

Vamos, então para o "Balet do Canavial", quando "Bailarinas de prata/, na transparências das rendas/, rodopiam juntinhas/,nas pontas dos pés/, sobre o tablado/ açucarado de cana. (...) O engenho canta/ A garapa se emociona/, e vira inspiração/cachaça/, musa dos canaviais/. Engarrafagem de emoções/ no frasco da Orizonita/, Fazenda Morro da Chuva, em Orizona, Goiás."

*Jacinto Guerra, mineiro de Bom Despacho, é autor de vários livros, entre os quais JK- Triunfo e Exílio – um estadista brasileiro em Portugal, e O gato de Curitiba – crônicas – Prêmio BDMG Cultural de Literatura/Banco do Desenvolvimento de Minas Gerais.