JG – Uma Casa Navega no Mar
Por Victor Alegria*
“Em Belo Horizonte , grande cidade mediterrânea, as crianças brincam no mar. E na pequena Lagoa da Prata, o menino conversa com uma andorinha, memória de infância do autor de Arraial da Senhora do Sol, em que aparecem personagens surpreendentes como Rubem Braga e Carlos Drummond de Andrade”.
Logo nas primeiras páginas de Uma casa navega no mar (Thesaurus, 2008, R$20,00), Jacinto Guerra brinda o leitor com duas epígrafes de notáveis escritores da Língua Portuguesa: Miguel Torga e Cassiano Nunes, com os quais o cronista muito se identifica.
O primeiro, poeta e contista que engrandece a literatura moderna de Portugal, afirma que “é preciso ajustar a nossa luneta de horizontes pequenos e alargar, depois, o compasso com que habitualmente medimos o tamanho do que nos circunda”. O segundo, poeta e ensaísta, dos melhores da literatura brasileira, lembra, numa frase-verso muito feliz, que “nunca se sente pobre ao contemplar as estrelas.”
A luneta, que nos aproxima tanto das estrelas como das coisas da terra e do mar, é o instrumento que amplia a visão do escritor, abrindo-lhe as portas da imaginação e do fazer literário. Com a transformação de coisas pequenas em motivos de criação literária, Jacinto tempera suas histórias “com as sutis e finas ervas de seu jeito, gosto e estilo, imprimindo-lhes marca pessoal”, afirma Danilo Gomes, notável escritor, que considera o autor de O gato de Curitiba como “um craque de primeira linha no time dos cronistas brasileiros”.
Da conversa simples e despreocupada de um narrador curioso e perspicaz, o leitor encontra uma valiosa bagagem de conhecimentos retirados da simplicidade do ali e aqui de suas andanças, peregrino que é, de luneta em punho a observar estrelas em cada passo que trilha. Sua felicidade e bom humor é a presença atuante de um alto astral, que aparece em textos de agradável leitura, tanto nas crônicas como nos contos e nos ensaios.
O mais interessante de sua obra literária está na leveza de um estilo, em que se destacam o pitoresco e a clareza de expressão. É o que acontece, com o narrador a viver Num clima de Natal ou participando, com entusiasmo, de Um Carnaval diferente. Tudo isto depois do encantamento com a poesia de Mário Quintana, antes de apreciar um Marreco com repolho, em Guabiruba, num restaurante alemão, ou seja, um cotidiano vivido e observado atentamente.
Mais adiante, a menina brinca e reza nos Preparativos de Primeira Comunhão, crônica cheia de humor, envolvendo professores, alunos e pais, numa pitoresca reunião escolar. Num domingo, a dona-de-casa prepara delicioso almoço com fígado de galinha e um vinho raríssimo importado de Portugal, numa história que começa nos Açores, continua em Lisboa e vai terminar numa festa de família no interior de Minas Gerais. Surpreende-nos, de forma inusitada, a crônica ou mini-conto Na frente da Escola, narrativa de um encontro de pais e filhos, em bela tarde numa superquadra de Brasília.
Um livro infanto-juvenil? É sim, literatura de alta qualidade, capaz de agradar leitores os mais diversos – dos netos aos avós –, desde os que sempre apreciaram uma boa leitura aos que começam a fascinante aventura de ler. Para encerrar nossa conversa, é interessante lembrar que outras surpresas e emoções aguardam o leitor neste livro instigante e moderno, que acaba de chegar às livrarias e bibliotecas nos mais diversos lugares e cidades da Língua Portuguesa.
xxx
Victor Alegria, editor luso-brasileiro, natural de Arouca, Portugal, é cidadão honorário de Brasília e um dos pioneiros da nova capital do Brasília.
Jacinto Guerra, professor e escritor, natural de Bom Despacho-MG, passou sua infância em Moema e Lagoa da Prata. Morou em Belo Horizonte e Patos de Minas. Atualmente, reside em Brasília.
0s livros de Jacinto Guerra encontram-se à venda nas principais livrarias e na internet: http://www.thesaurus.com.br/
Parabens pela interatividade.
ResponderExcluirEstá ótimo o seu blog.