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Sou natural de Bom Despacho-MG. (16-7-1935) Bacharel em Letras pela UFMG, com pós-graduação na área de Educação pela PUC de Minas Gerais, além de cursos de Extensão Universitária, em Brasília, na UnB, e na Universidade de Évora, Portugal. Professor e escritor, tenho vários livros publicados, em gêneros diversos: crônica, história, biografia, conto, ensaio.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Emoção, em Bom Despacho, no Museu da Cidade e na Biblioteca Municipal

Jacinto Guerra

Belo Horizonte. Junho de 2010. Nesse tempo de chuva, frio e vento, deixamos Brasília, com destino a Araguari, no Triângulo Mineiro, para um compromisso familiar carregado da emoção que envolve pais e filhos.

De lá, Nilce e eu seguimos viagem Minas afora, passando por Estrela do Sul, Monte Carmelo, Patrocínio, Ibiá – e, mais adiante, pelos caminhos e horizontes da Serra da Saudade. Cada lugar com seus encantos e surpresas inesquecíveis.

Nosso destino é Bom Despacho, terra de muito bem-querer, onde temos compromissos no Museu da Cidade e na Biblioteca Municipal, na rica e variada programação do Festival de Inverno da cidade que, por sinal, estava bem mais fria que os outros lugares por onde passamos nessa temporada mineira.

Além de receber visitantes, turistas e amigos no Museu da Cidade, compromisso mais de Nilce Coutinho, fundadora e diretora do Museu, e  João Batista de Andrade, presidente da AMC, mantenedora do MdC, tenho outra missão, também importante e honrosa na  Biblioteca Municipal, que tem o meu nome e os meus livros: fazer uma palestra sobre o tema “JK e Brasília – Triunfo e  Exílio de um Estadista”.    

Preparando-me para a conversa com o público, fiquei emocionado com a releitura dos livros e textos sobre o presidente Juscelino Kubitschek, que venho escrevendo e divulgando há mais de vinte anos. Com o tema em estudo, motivos de emoção não faltam, tanto para o escritor como para o leitor. Um deles foi a construção de Brasília, a maior e a mais criativa realização do povo brasileiro. Por outro lado, a cassação dos direitos políticos de Juscelino e de seu mandato de senador foi uma grande injustiça que resultou no exílio e muito sofrimento para o mais querido dos estadistas brasileiros. 

Na manhã de quinta-feira, 3 de junho, preparando-me para a palestra na Biblioteca, recebi um telefonema do meu amigo Ferreira de Andrade, com uma triste notícia: Julio Benigno Fernández, grande amigo e companheiro, falecera, naquela madrugada, em São Paulo, alguns meses depois de mudar-se de Bom Despacho, onde tornou-se  um de nossos cidadãos mais estimados e queridos, sobretudo pela sua atuação em áreas diversas do desenvolvimento da cidade.

De repente, tive a sensação de perder o próprio chão de Bom Despacho, porque se despede de nós um irmão muito querido que veio do interior da Argentina para nos ajudar  a construir o futuro da cidade da Senhora do Sol. Julio era, ao mesmo tempo, um cidadão do mundo e um homem do interior que muito aprendeu em cidades cosmopolitas como Buenos Aires, na Argentina, e São Paulo, no Brasil. Todos nós estamos de luto, principalmente o Museu da Cidade, a Biblioteca Municipal, os empresários, os amigos da arte e da cultura, enfim, toda a cidade, que ele tanto amou.

Com este acontecimento inesperado, de início senti-me sem condições emocionais de fazer a palestra no mini-auditório da Biblioteca. Depois entendi que a melhor forma de homenagear Julio Benigno e Juscelino Kubitschek era dominar a emoção e cumprir da melhor forma possível o meu compromisso do momento com a cultura em minha cidade.

Depois da visita ao Museu, instituição em que Julio fez História, juntamente com outros companheiros, inauguramos na Biblioteca uma rica exposição sobre JK. Antes da palestra sobre o criador de Brasília, o auditório prestou um minuto de silêncio em homenagem a Julio Benigno, seguido de palavras a respeito de sua vida e sua obra, reverenciadas com uma vigorosa salva de palmas. 

Em seguida, desenvolvi o tema da palestra sobre JK para o público que lotou o pequeno auditório da Biblioteca, inclusive uma representação de Lagoa da Prata e Santo Antônio do Monte. Fiquei honrado com a presença de autoridades da área cultural, além de advogados, empresários, professores, artistas e outros cidadãos. Entre os jovens, destacou-se um grupo de estudantes de Direito.

O público teve uma boa participação, trocando ideias e informações sobre o tema da palestra, inclusive cantando o “Peixe Vivo”, canção folclórica que encantava Juscelino e seus admiradores pelo Brasil afora.

Além de aspectos de grande importância na biografia de Juscelino, que tive a oportunidade de estudar, em Brasília, como pesquisador do Memorial JK, fiz questão de comentar a presença do grande estadista na memória de cidadãos de Bom Despacho, entre os quais Geraldo Fidelis, Hugo Teixeira Leite e Geraldo Mascarenhas. Depois, lembrei-me, também, que a farmacêutica Juventina Guerra foi colega de Juscelino Kubitschek, em aulas comuns de Medicina e Farmácia, na antiga Faculdade de Medicina de Belo Horizonte, que se incorporou à UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais.

Por outro lado, vários militares de Bom Despacho conheceram, na Revolução de 1932, o jovem capitão-médico Juscelino Kubitschek, entre os quais o soldado José Pedro Barbosa, mais conhecido como José Pedro Comunista. Tudo isto o leitor encontra no meu livro “Gente de Bom Despacho – histórias de quem bebe água da Biquinha”, além da rica biografia de Julio Benigno Fernández, natural de Concepción, província de Tucumán, Argentina.   

Uma situação surpreendente me deu condições de falar de forma agradável e interessante. Foi uma palestra que recebeu muitos aplausos, seguida de um rico debate sobre educação, cultura, desenvolvimento e democracia. O certo é que valeu a pena voltar à Biblioteca Municipal de minha terra, que, em 2009, comemorou 45 anos de bons serviços à educação e à cultura de nossa cidade. Com isto, lembramos a frase de Monteiro Lobato escolhida para símbolo de nossa Biblioteca: “Um país de faz com homens e livros.”

     (Texto publicado originalmente no Jornal de Negócios, de Bom Despacho – MG)

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