Biografia...

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Brasilia, DF, Brazil
Sou natural de Bom Despacho-MG. (16-7-1935) Bacharel em Letras pela UFMG, com pós-graduação na área de Educação pela PUC de Minas Gerais, além de cursos de Extensão Universitária, em Brasília, na UnB, e na Universidade de Évora, Portugal. Professor e escritor, tenho vários livros publicados, em gêneros diversos: crônica, história, biografia, conto, ensaio.

domingo, 10 de julho de 2011

 

Jacinto Guerra lança novo livro e promove oficina literária no III Festival de Inverno de Bom Despacho

 
 Se você gosta de viajar – e de ler –, não perca tempo: 
embarque nas páginas de 
 O Cavaleiro Andante. Você encontrará Jacinto Guerra e seus livro no 
III Festival de Inverno de Bom Despacho.
 
Boa viagem Brasil afora, partindo, depois, rumo ao Peru, Bolívia, Portugal, Itália, França, Grécia e Turquia, demorando um pouco mais em Roma, Lisboa, Porto, Sintra, Vila Verde, Atenas e Ilhas Gregas.
O Cavaleiro Andante – Do Pacífico ao Mar Egeu, viagens mundo afora é um livro de temática universal, capaz de agradar leitores os mais diversos.
Para o leitor das regiões de Bom Despacho, no Brasil, e de Vila Verde em Portugal,  algumas crônicas desse livro são  especiais:
  • A saga da Estrada de Ferro Paracatu
  • Em Vila Verde, num espetáculo a céu aberto
  • Bem-vindos a Bom Despacho, cidade da Senhora do Sol


Jacinto Guerra, professor e escritor, é mineiro de Bom Despacho. Bacharel em Letras pela UFMG, fez cursos de Extensão na UnB-Universidade de Brasília e na Universidade de Évora, Portugal. É autor de vários livros, entre os quais JK –Triunfo e Exílio – um estadista brasileiro em Portugal e Gente de Bom Despacho – histórias de quem bebe água da Biquinha. São obras de gêneros diversos: história, biografia, conto, crônica e ensaio.

Uma oficina para quem deseja escrever bem

No dia 13 de julho, quarta-feira, de 16:00 às 18:30, no Colégio Tiradentes da Polícia Militar, Jacinto Guerra  promoverá uma palestra-oficina sobre o tema "A Leitura e a Escrita: um conto, uma crônica, um poema".
A oficina dirige-se a jovens e adultos, estudantes ou não, interessados em conhecer e desenvolver as experiências e técnicas de trabalho de um escritor.

A palestra-oficina dirige-se, também, a pessoas que desejam ampliar seus conhecimentos e escrever melhor. Número limitado de vagas. Outras informações no site da Secretaria de Cultura de Bom Despacho: www.bomdespacho.mg.gov.br - cultura@hotmail.com - (037) 3521-4206.

quarta-feira, 22 de junho de 2011



LONDRES E BOM DESPACHO - 2012:
UM ANO HISTÓRICO


Olimpíadas de Londres
                             
Guimarães, cidade-berço de Portugal - Capital Europeia da Cultura

Rio de Janeiro - Conferência Internacional do Meio Ambiente -
 Rio + 20

Centenário de Bom Despacho, Minas Gerais

Cidade que surgiu de uma pequena aldeia fundada por colonizadores portugueses que vieram do Minho, nos fins do século XVIII e estabeceram-se num lugar verdadeira pitoresco pela imensidáo e beleza de seu horizonte.               
                    

sexta-feira, 6 de maio de 2011

JG – Uma Casa Navega no Mar

Por Victor Alegria*


Em Belo Horizonte, grande cidade mediterrânea, as crianças brincam no mar. E na pequena Lagoa da Prata, o menino conversa com uma andorinha, memória de infância do autor de Arraial da Senhora do Sol, em que aparecem personagens surpreendentes  como Rubem Braga e Carlos Drummond de Andrade”.  



          Logo nas primeiras páginas de Uma casa navega no mar (Thesaurus, 2008, R$20,00), Jacinto Guerra brinda o leitor com duas epígrafes de notáveis escritores da Língua Portuguesa: Miguel Torga e Cassiano Nunes, com os quais o cronista muito se identifica.

O primeiro, poeta e contista que engrandece a literatura moderna de Portugal, afirma que “é preciso ajustar a  nossa luneta de horizontes pequenos e alargar, depois, o compasso com que habitualmente medimos o tamanho do que nos circunda”. O segundo, poeta e ensaísta, dos melhores da literatura brasileira,  lembra, numa frase-verso muito feliz, que “nunca se sente pobre ao contemplar as estrelas.”

A luneta, que nos aproxima tanto das estrelas como das coisas da terra e do mar, é o instrumento que amplia a visão do escritor, abrindo-lhe as portas da imaginação e do fazer literário. Com a transformação de coisas pequenas em motivos de criação literária, Jacinto tempera  suas histórias “com as sutis e finas ervas de seu jeito, gosto e estilo, imprimindo-lhes marca pessoal”, afirma Danilo Gomes, notável escritor, que considera o autor de O gato de Curitiba como “um craque de primeira linha no time dos cronistas brasileiros”.

Da conversa simples e despreocupada de um narrador curioso e perspicaz, o leitor encontra uma valiosa bagagem de conhecimentos retirados da simplicidade do ali e aqui de suas andanças, peregrino que é, de luneta em punho a observar estrelas em cada passo que trilha. Sua felicidade e bom humor é a presença atuante de um alto astral, que aparece em textos de agradável leitura, tanto nas crônicas como nos contos e nos ensaios.

O mais interessante de sua obra literária está na leveza de um estilo, em que se destacam o pitoresco e a clareza de expressão. É o que acontece, com o narrador a viver Num clima de Natal ou participando, com entusiasmo, de Um Carnaval diferente. Tudo isto  depois do encantamento com a poesia de Mário Quintana, antes de apreciar um Marreco com repolho, em Guabiruba, num restaurante alemão, ou seja, um cotidiano vivido e observado atentamente.

Em Belo Horizonte, grande cidade mediterrânea, as crianças brincam no mar. E na pequena Lagoa da Prata, o menino conversa com uma andorinha, numa crônica  autobiográfica de muita ternura, memória de infância do autor de Arraial da Senhora do Sol, em que aparecem personagens surpreendentes como Rubem Braga e Carlos Drummond de Andrade.

Mais adiante, a menina brinca e reza nos Preparativos de Primeira Comunhão, crônica cheia de humor, envolvendo professores, alunos e pais, numa pitoresca reunião escolar. Num domingo, a dona-de-casa prepara delicioso almoço com fígado de galinha e um vinho raríssimo importado de Portugal, numa história que começa nos Açores,  continua em Lisboa e vai terminar numa festa de família no interior de Minas Gerais. Surpreende-nos, de forma inusitada, a crônica ou mini-conto Na frente da Escola, narrativa de um encontro de pais e filhos, em bela tarde numa superquadra de Brasília. 

Um livro infanto-juvenil? É sim, literatura de alta qualidade, capaz de agradar leitores os mais diversos – dos netos aos avós –, desde os que sempre apreciaram uma boa leitura aos que começam a fascinante aventura de ler. Para encerrar nossa conversa, é interessante lembrar que outras surpresas e emoções aguardam o leitor neste livro instigante e moderno, que acaba de chegar às livrarias e bibliotecas nos mais diversos lugares e cidades da Língua Portuguesa.  
                                                   
 xxx

             Victor Alegria, editor luso-brasileiro, natural de Arouca, Portugal, é cidadão honorário de Brasília e um dos pioneiros da nova capital do Brasília.

Jacinto Guerra, professor e escritor, natural de Bom Despacho-MG, passou sua infância em Moema e Lagoa da Prata. Morou em Belo Horizonte e Patos de Minas. Atualmente, reside em Brasília.

0s livros de Jacinto Guerra encontram-se à venda nas principais livrarias e na internet: http://www.thesaurus.com.br/


segunda-feira, 11 de abril de 2011

Os encantos de Goiânia, no coração do Brasil

“Louvado seja Deus, que permitiu ao Papa
 vir a essa terra  e conhecer esse povo”.

   João Paulo II, ao visitar Goiânia em 1991

JACINTO GUERRA


Com um traçado urbanístico moderno, universidades, bibliotecas e museus importantes, feiras e centros comerciais muito ativos, além de belos monumentos, galerias de arte, espaços de lazer – e muito verde debaixo de um céu límpido – Goiânia é uma das cidades brasileiras de melhor qualidade de vida e de perspectivas  de futuro. Construída e inaugurada nos meados do século XX pelo governador Pedro Ludovico – um Juscelino Kubitschek do Estado de Goiás –, a nova capital foi planejada para cinqüenta mil habitantes e hoje possui mais de um milhão de moradores.

No 11º andar do Evidence Apart-Hotel, da Rede Bristol, no Setor Pedro Ludovico, vemos a beleza de Goiânia em várias dimensões. Lá embaixo, está o imenso planalto cercado de pequenas elevações. O conjunto cidade-e-natureza forma gigantesca meia lua, mostrando, nas linhas do horizonte, que a Terra é mesmo redonda!

Milhares de residências e centenas de edifícios, com muitos exemplos da melhor arquitetura contemporânea – ao lado de ilhas de vegetação e pequenas florestas urbanas – explicam a excelente qualidade de vida que a cidade oferece a seus moradores e visitantes. No céu de Goiânia, o ar puro é cortado pelo voo dos pássaros e, vez por outra, de algum avião das rotas aéreas do Planalto Central.

Apesar do crescimento urbano que ultrapassou o que seus fundadores imaginaram, o trânsito de Goiânia flui normalmente em suas amplas avenidas arborizadas. Pelo menos, foi o que vi em minha temporada na capital de Goiás. É coisa mesmo de fazer inveja, principalmente aos moradores de outras grandes cidades mundo afora. Como Brasília teve Lúcio Costa, o famoso urbanista que desenhou a cidade em forma de avião ou borboleta, o arquiteto Atílio Correia Lima fez o traçado de Goiânia como um bordado que lembra, com nitidez e beleza, o manto de Nossa Senhora. Antes da construção de Brasília, Oscar Niemeyer projetou, em Belo Horizonte, o conjunto de obras da Pampulha, que revolucionou a arquitetura brasileira. Naquela época, início dos anos 1940, arquitetos, engenheiros, artistas e operários já há haviam construído Goiânia, a moderna capital de Goiás.               

Goiânia surpreende o visitante de maneiras diversas: muito verde nas avenidas e parques ecológicos, como o Bosque dos Buritis; suas feiras do Sol e da Lua, o Parque da Vaca Brava, além de importantes museus, o Teatro Goiânia, grandes obras de arte em praça pública – e um ativo comércio de confecções na emblemática Avenida Bernardo Sayão.

Mas, sobretudo, emocionante é sua Praça Cívica, cenário de acontecimentos dramáticos da História Contemporânea do Brasil. A resistência democrática do povo goiano era ameaçada pelos aviões militares que sobrevoavam a cidade até a deposição do governador Mauro Borges, que saiu do Palácio das Esmeraldas sob os aplausos do povo, em pleno regime ditatorial, numa corajosa demonstração da esperança na democracia.

Uma grande surpresa de Goiânia é o seu Museu Ornitológico, um dos mais completos do mundo, com mais de trinta mil peças catalogadas, organizadas e expostas ao público. São aves da fauna brasileira e dos mais diversos países, além de outros animais de várias regiões do planeta. Logo na entrada do grande museu, aparece uma ave de grande porte e elegância: a inhuma, símbolo do Estado de Goiás. É um fantástico museu que poucos brasileiros conhecem – e até muitos goianos ainda não tiveram a oportunidade de visitar e muito aprender nesse importante centro cultura, ciência e educação. É obra do cientista húngaro Joseph Hidasi que – ainda muito jovem, veio para o Brasil e aportuguesou o seu nome para o nosso popularíssimo José – vem realizando ao longo de meio século, sobretudo em Goiás, alguns projetos da maior importância científica e cultural para o nosso País.

Mantido por uma Fundação Municipal – e apoios que José Hidasi consegue na Europa – o Museu Ornitológico de Goiânia merece uma atenção especial dos governos do Estado e da União, porque, sem dúvida alguma, integra o mais expressivo conjunto de bens culturais e científicos no Brasil.

Muita coisa interessante o turista pode ver em Goiânia: o Relógio das Flores, a Feira de Doces Cora Coralina (simpática homenagem à poeta e doceira goiana), a grande escultura em bronze do bandeirante Bartolomeu Bueno, o Anhanguera; o Monumento à Paz, de cinco metros de altura, em forma de ampulheta, com terras provenientes de vários países; espaços culturais e galerias de arte como a Estação Cultura e o Centro Cultural Martim Cererê, além do interessante Museu Pedro Ludovico, instalado na própria casa do fundador de Goiânia, em pleno centro histórico da cidade. Quando lá estivemos, um grupo de estudantes fazia uma visita, tendo como guia um entusiasmado cidadão que viveu naquela casa. Era um neto dó Pedro Ludovico.

Além dc seu famoso Museu Ornitológico, Goiânia possui, também, importantes museus de arte e o já famoso Memorial do Cerrado, instituição vinculada à Universidade Federal de Goiás - UCG, um museu do melhor padrão internacional, sobretudo pela riqueza, diversidade e organização de seu acervo científico. O Memorial do Cerrado possui espaços diversos. Entre os mais notáveis, a Grande Exposição de História Natural, com fósseis de animais pré-históricos, vegetais, minerais e pedras diversas, tudo catalogado e organizado nos padrões da museologia moderna.

Outros espaços do Memorial espertam a curiosidade e o interesse de visitantes de todas as idades. A vila cenográfica reproduz uma antiga cidadezinha goiana, com rua, igreja, uma venda, casa de moradia, além da pracinha com banco e jardim, no estilo típico de nossas primeiras vilas. Depois, o turista pode visitar uma sede de fazenda antiga, com engenho, casa de farinha e outros benfeitorias. Existe, também, uma aldeia indígena, típica da região – e a reprodução completa de um quilombo escondido dentro da mata, mostrando as condições de sobrevivência dos escravos em seu refúgio.

Além de outros museus e atrações turísticas que não tive a oportunidade de visitar, merece destaque especial os Painéis da Via Sacra – situados na Rodovia dos Romeiros, que liga as cidades de Goiânia e Trindade –, obra do artista plástico Omar Souto, que retrata a Paixão de Cristo em catorze painéis de dez metros de largura por quatro de altura, formando uma das maiores galerias de arte a céu aberto do mundo inteiro. Num toque dramático de modernidade, o artista pintou, em cada um dos painéis, a menina Leide dos Santos, vítima do lamentável acidente radioativo com o Césio -137 que, em 1987, ocorreu em Goiânia.

Em Trindade, realiza-se a grande Festa do Divino Pai Eterno que atrai milhares de peregrinos para uma das maiores celebrações religiosas do interior do Brasil. Como imagem-símbolo do que vimos e aprendemos em Goiânia, no final da visita ao Memorial do Cerrado, fiz a seguinte observação: “Cheguei à conclusão que nós, de Brasília e Minas Gerais, temos muito que aprender em Goiás.” Enquanto isto, noutro grupo de turistas, alguém respondeu em voz alta: “Nós, do Estado de São Paulo, também!”

                                                               Brasília, julho de 2005

O autor visitou Goiânia a serviço do Jornal MG Turismo, de Belo Horizonte, como hóspede do Evidence Apart Hotel, da Rede Bristol, e foi recebido pelo Secretário Municipal de Turismo, Luciano Carneiro, e a jornalista Leia Carvalho.     

quinta-feira, 31 de março de 2011

                       EM ASSIS, TERRA DE SÃO FRANCISCO

                                          Jacinto Guerra

Na Itália, depois da emoção de visitar Roma e a cidade do Vaticano, nosso destino é a pequena Assis, na Úmbria, onde nasceu São Francisco, uma das figuras mais notáveis que o mundo já conheceu. Fizemos a viagem de trem, alcançando o centro da Itália, depois de atravessar a Úmbria com toda a beleza de suas paisagens, enriquecidas com o rio Tibre, na planície, e os montes Apeninos na linha do horizonte.  

Se todos os caminhos levam a Roma, em Assis todas as ruas nos levam ao coração espiritual da cidade: a Basílica de São Francisco, um complexo de duas igrejas e uma cripta, onde se encontra o túmulo de um dos santos mais queridos e venerados do mundo.  Quando chegamos à varanda da basílica, ouvimos um vozerio de pessoas alegres, falando o português do Brasil. Dizem que, viajando pelo mundo, é fácil encontrar um cearense. Ou muitos. Andamos rapidamente em direção às vozes brasileiras. Encontramos agradável surpresa: uma animada excursão de  um colégio de Fortaleza! 

A cidade de Assis foi fundada pelos etruscos e, mais tarde, conquistada pelos romanos, cuja presença histórica apresenta-se em monumentos como o templo de Minerva, além do Museu e Foro Romano. O templo fica na Praça do Município (sec. I a.C), onde se encontram  também, o Palácio do Capitão do Povo, do século XIII, o Palácio dos Priores e a Torre do Povo.

Ficamos surpreendidos com a beleza desta cidadezinha medieval, de ruas estreitas e casas muito antigas, feitas de pedra, embelezadas com flores nas janelas. Eram ruas e praças cheias de gente de todas as partes do mundo, jovens em sua enorme maioria, irradiando um clima de muita alegria.

A minha geração, que estudou um pouco de latim, não encontra dificuldades para entender o italiano, o que é gratificante na Itália, porque isso ajuda muito a melhor aproveitar a viagem. Ao embarcar em Roma para a viagem de duas horas até Assis, entramos imediatamente no trem. Amáveis, algumas pessoas perguntaram de onde éramos. Num português misturado com italiano, travamos agradável conversa com alguns passageiros. Nossa curiosidade levou-nos a fazer inúmeras perguntas. Eram solícitos em prestar informações ao casal de brasileiros. De repente, ao perceber que estávamos com os bilhetes da viagem na mão, uma senhora advertiu-nos, muito preocupada: – La maquineta! la maquineta!  como se estivéssemos cometendo uma falta muito grave. Para explicar melhor, gesticula mostrando que precisávamos descer, rapidamente, para resolver um problema. O pior é que a locomotiva estava na hora de sair. Desconhecíamos a obrigação de picotar o bilhete na maquineta instalada na plataforma da estação. Marido e mulher saíram rapidamente do comboio, alcançaram a maquineta, picotaram os bilhetes e voltaram correndo. Foi um alívio! Graças a São Francisco, Santa Clara e à simpática italiana seguimos viagem muito bem, obrigado.

Turistas de pouca experiência, entusiasmados com a paisagem e com as pessoas de outras culturas, precisam tomar cuidado para evitar algumas gafes que podem custar caro. Precisam ficar “sempre alerta”, como os escoteiros. Os descuidos podem ser desastrosos.

É um encanto esta viagem pelo interior da Itália, passando por antigas cidades e aldeias etruscas e romanas, com suas casas de pedra,  campanários, velhas igrejas e belos vinhedos. Entre elas, a pequena cidade de Cássia, onde viveu Santa Rita. Lembrei-me de minha mãe, dona Ester,  devota dessa santa italiana, cuja imagem sempre acompanhou-a em Moema, Bom Despacho, Belo Horizonte.

Já estávamos quase no fim da viagem. Depois de Spoleto, o trem para numa estação ao lado da cidade de Foligno. Vários padres e religiosas desceram a fim de, noutro carro, seguir viagem para Assis. Sem prestar muita atenção no roteiro da excursão, quase tomamos o caminho de Perugia, capital da Úmbria, rumo ao Norte da Itália... No entanto, como Deus é brasileiro, seguimos os padres e freiras, entramos numa passarela subterrânea e saímos, felizes, lá na frente, em Foligno, para continuar a viagem. Dizem que mineiro não perde trem, uai.

Situada numa encosta do Monte Subásio, Assis é toda cercada por uma muralha medieval. É um tabuleiro de estreitas e sinuosas ruas, que fazem do lugar um convite irresistível para agradáveis caminhadas. Em Assis, turistas e moradores andam sempre a pé, porque a cidade é pequena e pitoresca. O trânsito de veículos é muito limitado, para evitar danos ao patrimônio histórico. Ônibus de turismo e carros de não moradores ficam em estacionamentos especiais, fora das muralhas da cidade.

Filho de um rico comerciante, Francisco cresceu com todos os privilégios que tinha um jovem das elites da época.  Ao tomar contato com a miséria e os pobres de Assis, decidiu mudar o rumo de sua vida. E o fez de maneira radical. Na praça central da cidade, com a presença de expressiva multidão, Francisco renunciou ao nome e à fortuna da família   e até mesmo de suas roupas, que foram  devolvidas a seu pai. Com um voto de pobreza total, assumiu, a partir daquele dia, o compromisso de viver a serviço da caridade e dos ensinamentos de Jesus Cristo.

Clara e Francisco eram namorados. Quando ele tomou a decisão de mudar de vida e fundar uma ordem religiosa, Clara resolveu seguir o seu exemplo e também dedicar sua vida à palavra de Deus. Fundou, então, uma instituição religiosa, hoje conhecida com Ordem de Santa Clara, enquanto a Ordem de São Francisco, também, consolidou-se na Igreja Católica.  A Basílica de Santa Clara, de estilo gótico-italiano, foi erguida no período 1257-1265 e possui notáveis elementos de arquitetura, como a rosácea e o portal. Em forma de cruz latina , o interior tem uma só nave. Na cripta, está conservado o corpo de Santa Clara.

Nos tempos de São Francisco, a Itália não existia como um país politicamente organizado em províncias e cidades. Florença, Perugia, Assis e outros lugares eram cidades-estado, independentes umas das outras e, muitas vezes, envolvidas em conflitos e lutas armadas.

Quando Francisco nasceu, o seu pai, Pedro Bernardone, estava na França em viagem de negócios. O menino foi, então, batizado com o nome de João. Ao voltar de viagem, o pai mudou o nome do filho para Francisco, em homenagem à França, país que ele muito amava e terra de dona Pica, sua esposa.

Os jovens daquele tempo, em cidades como Assis, eram fascinados em lutas e aventuras. Francisco e seus amigos de farras, festas e cantorias eram fãs das histórias do Rei Artur e os cavaleiros da Távola Redonda. Aos vinte anos de idade, o filho de Pedro Bernardone orgulhava-se de ser um cavaleiro, um soldado. Francisco, então, foi lutar numa guerra entre Assis e Perugia, quando acabou sendo preso.

Depois de um ano atrás das grades, foi libertado e voltou para Assis. Como disse  frei Jorge Hartmann, autor de Francisco – o irmão sempre alegre, até aquela hora o filho de Pedro Bernardone ainda não tinha adquirido o gosto pelas coisas de Deus.  Depois, foi a grande transformação que impressiona o mundo inteiro, ultrapassando as próprias fronteiras da Igreja Católica. Tudo isto em razão do humanismo e da universalidade de sua mensagem, até hoje muito moderna, com sua preocupação com a natureza, as aves, os animais    com a vida, enfim, em toda em toda a sua plenitude.   

O grande segredo de Assis é a sua capacidade de evocar o passado e de viver momentos de intensa espiritualidade, que envolve a todos que  têm o privilégio de visitá-la. Com o Natal em Assis, a cidade lembra que São Francisco criou o primeiro presépio do mundo. Com isto, os presépios estão presentes nas igrejas, nas ruas e nas moradias do povo. Entre as comemorações religiosas, muito sugestivas em Assis, destacam-se as festas da Ressurreição, a procissão do Corpus Domini, com as ruas cobertas de tapetes de flores, a Festa do Perdão e, sobretudo, a Festa de São Francisco, que é o padroeiro da Itália.

Muito rico, também, é o calendário de arte e cultura da cidade, especialmente a “Primavera dArte”, com exposição de antiquários e arte contemporânea. A mais famosa manifestação turística de Assis é a Calendimaggio, quando, durante três noites, a cidade toda iluminada de archotes, parece voltar à Idade Média e aos tempos de Clara e Francisco. Para o turista mais interessado em arte e cultura, Assis orgulha-se de seus pequenos, mas importantes museus – e de suas ricas e preciosas bibliotecas. Para quem, além do interesse pelas coisas do espírito e da fé, é um amante da natureza, o silêncio dos bosques e a beleza que se contempla na montanha são atrações inesquecíveis.

Francisco era muito alegre, tinha muito bom humor. Certa noite de lua cheia, ele resolveu tocar o sino da igreja, pela noite adentro,  para celebrar a beleza da lua. O povo acordou sobressaltado e saiu para a rua, preocupado, pensando tratar-se de um sinal de alarme. E diante do povo – muitos homens de pijama e mulheres de camisola de dormir –, o futuro São Francisco foi se explicando, com muito bom humor: ‘Meus irmãos, como se pode dormir com um luar tão lindo assim?”.

Por tudo isto, agradecemos a Deus pela ventura de conhecer uma terra tão abençoada e de tanta beleza. Viajo, agora, no tempo e na geografia. As memórias de infância levaram-me a escrever a crônica Conversa de Andorinha, que tem como cenário a Lagoa da Prata, cidade brasileira tão pequena como a terra de São Francisco. Lá conheci e encantei-me com o primeiro presépio de minha vida.  E a personagem sai de um livro para outro:

         – Nós, andorinhas, somos irmãs de São Francisco. Dos santos e dos homens. Das outras aves do céu. Do ar. Dos ventos e das árvores. Contribuímos, com muito orgulho, para o equilíbrio do meio ambiente. Gostamos muito da água, nossa irmã. É voando que tomamos nosso banho.
Mergulhamos rapidamente na água e já – no outro instante     estamos no ar voando. Aliás, o poeta disse que voar é preciso.  

Voltamos à terra de São Francisco, depois desta viagem literária a Lagoa da Prata, em Minas Gerais, mas chegou a hora de embarcar para Roma, já no caminho de volta ao Brasil, passando em Portugal para, em Vila Verde,  falar com Nossa Senhora do Bom Despacho, e – em Fátima – agradecer as bênçãos que a mãe de Deus nos tem concedido ao longo da vida.

Para encerrar a viagem, vamos rezar com São Francisco de Assis:                    Senhor,  fazei de mim um instrumento de vossa paz;
Onde houver ódio, que eu leve o amor;
Onde houver discórdia, que eu leve a união
Onde houver duvida, que eu leve a fé.
Onde houver erros, que eu leve a verdade;
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão;
Onde houver desespero, que eu leve esperança;
Onde houver tristeza que eu leve a alegria;
Onde houver trevas que eu leve a luz.
Ó Mestre, fazei com eu procure mais consolar que ser consolado;
Compreender, que ser compreendido;
Amar, que ser amado;
Pois é dando que se recebe;
É perdoando que se é perdoado;
E é morrendo que se vive para a vida eterna.

                                                                                        Fevereiro de 2010.
      
Em Assis, terra de São Francisco” é o texto de abertura do novo livro de Jacinto Guerra  – O Cavaleiro Andante – do Pacífico ao Mar Egeu, Viagens Mundo Afora  – (Thesaurus, Brasília, 2010), à venda nas principais livrarias e no www.thesaurus.com.br                

domingo, 20 de março de 2011

A felicidade no interior de Minas

   JACINTO GUERRA

Bem no centro de Belo Horizonte, existia a Feira de Amostras, interessante vitrine de Minas Gerais, com sua rica exposição de pedras e de minerais. Hoje lá está o Terminal Rodoviário de BH, nossa Rodoviária, que mais parece um pequeno e moderno aeroporto, com livrarias, agência de correio, acesso à internet, caixas eletrônicos, lanchonetes, restaurante – e outras coisas que o turista precisa para o começo ou a chegada de boa viagem Minas afora.

Caminhando pelo enorme saguão cheio de luzes e outros penduricalhos, revejo os painéis de Heleno Nunes – notável artista plástico de Lagoa da Prata e do Brasil –  cuja pintura, que lembra as obras de Portinari, revela cenas típicas do povo mineiro.

Mais adiante, paro e medito frente ao oratório de Nossa Senhora da Boa Viagem, padroeira de Belo Horizonte e de todos os que, pelo mundo afora, navegam no ar, na terra e no mar.

Meu destino é a Rua Perdões, perto da Igreja do Beato Padre Eustáquio, rumo ao futuro e à memória de outros tempos distantes e próximos.Vou para a casa de dona Menita, generosamente sombreada de castanheiras, minha pousada na grande cidade ao pé da Serra do Curral.

Na pequena viagem de táxi, apesar de sua tranqüilidade e segurança no volante, o motorista desabafa: 
A mulher não me deixa em paz. Liga pro celular toda hora, atrapalha o serviço da gente, sô.
 – Você é casado? Moram juntos?
 – Casado coisa nenhuma. Tenho, há dez anos, é uma namorada. Eu, na minha casa; ela, na casa dela. Cada um com seus filhos e problemas. Juntos seria muito pior, uai.
O táxi roda pela Via Expressa, entra na comprida Rua Padre Eustáquio, atravessa antiga região de imigrantes italianos –  o Bairro Carlos Prates –, com sua Igreja de São Francisco das Chagas dominando a paisagem. 

 – Mal pergunta, o senhor é de onde?
 – Sou mineiro de Bom Despacho. Casei-me em Belo Horizonte, onde passei minha juventude – e, há muitos anos, moro em Brasília.
Bom Despacho eu conheço. Cidade boa, tem muita gente bonita. Andei por lá trabalhando para o Sílvio Santos, com o Baú da Felicidade.
 – E aí, encontrou a felicidade?
 – Quase que encontrei. No barzinho do Zé Garapa, fiquei conhecendo uma morena que era uma beleza. Foi uma paixão danada. Êta trenzinho ajeitado, sô. 
                                           
Esta crônica foi publicada no livro Uma casa navega no mar– contos, crônicas e pequenos ensaios, de Jacinto Guerra, que poderá ser adquirido pela internet no www.thesaurus.com.br ou nas boas livrarias do país.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Uma importante Feira do Livro no interior de Minas Gerais

por Jacinto Guerra
"E agora, José? A festa acabou. O povo sumiu..."
Carlos Drummond de Andrade

Os grandes homenageados da 6ª. Feira do Livro de Bom Despacho e Cidades Vizinhas foram os escritores Guimarães Rosa e Mário Quintana, mas depois que a festa terminou, lá na Praça da Matriz, uma certa tristeza, mesclada de saudade e de alegria nos leva ao poema famoso de Carlos Drummond de Andrade.

Desde 1991, esta pequena capital da microrregião do Alto São Francisco, em Minas Gerais, promove a sua Feira do Livro, com algumas interrupções, é verdade, mas firmando-se, cada vez mais, como um evento importante, sobretudo para o nosso futuro. Uma bela solenidade de abertura, sob os acordes da Banda de Música do 7º Batalhão da Polícia Militar, com apresentações de arte e poesia, assinalou o início dos trabalhos de uma bela festa da literatura e dos livros.

Promovida pelo SESC-MG, em sua maior parte, nos amplos e modernos espaços do Laces/Liceu de Arte, Cultura, Esporte e Saúde - com apoio da Unipac-Universidade Presidente Antônio Carlos e de outras instituições empresas bondespachenses -, esta realização não seria possível sem a participação e o entusiasmo de uma legião de professores, escritores, livreiros, jornalistas e leitores de Bom Despacho, Belo Horizonte, Brasília e cidades vizinhas.

Fica difícil citar os nomes de todos os cidadãos que se empenharam nos trabalhos da Feira, mas é preciso destacar os representantes da Rede Escolar de Bom Despacho, especialmente as professoras Juraci e Kátia; o pessoal do Sesc-MG, liderados pela Jane Pascoal, os professores e estudantes de nossas escolas de todos os níveis e a equipe da AMC- Associação Museu da Cidade, na pessoa de seu presidente, o empresário Julio Benigno Fernández.

A 6ª Feira do Livro de Bom Despacho, realizada no período de 29 a 30 de setembro, ocupou espaços na mídia de Belo Horizonte, Brasília, Goiânia, Bom Despacho e Itaúna, destacando-se o artigo "O grande exemplo de Bom Despacho", do professor e escritor Edmílson Caminha, e a crônica "Viagem com Guimarães Rosa a Bom Despacho", do jornalista e poeta Salomão Sousa. Destaque especial merecem as notícias divulgadas nos jornais mineiros Estado de Minas, O Tempo, Hoje em Dia e Jornal de Negócios; na TV União/Rede de Televisão e, pela internet, nos sites Guiabd, Mineiros-Uai, Senhora do Sol e no Verdestrigos, de Presidente Prudente, Estado de São Paulo. Nossas emissoras de rádio, especialmente a Rádio Cidade, a Difusora Bondespachense e a Rádio Comunidade, promoveram entrevistas com escritores e divulgaram a nossa Feira entre os seus milhares de ouvintes em nossa região.

A nossa programação foi bem rica, envolvendo palestras, recitais de poesia, performance de contadores de histórias, oficina literária, sessões de autógrafos, lançamentos de livros e outras manifestações de arte e cultura dirigidas a crianças, jovens, adultos e , de maneira especial, aos cidadãos de terceira idade.

Uma feira é sempre um espaço de compra e venda, mas principalmente um lugar de festa e alegria. O livro é um produto cultural como qualquer outro. Custa dinheiro, precisa ser vendido e, naturalmente, comprado pelas pessoas que gostam de ler. Pelas outras, também, para oferecer de presente a um amigo, a um parente e, sobretudo, aos jovens estudantes que se preparam para conquistar o futuro.

Outro objetivo importante de uma Feira do Livro é levar os escritores e os livros para um contato direto com o povo, aproximando escritores e leitores para uma conversa agradável e proveitosa. Em síntese, incentivar e desenvolver o hábito da leitura. As editoras, livrarias e bibliotecas são presenças indispensáveis numa Feira do Livro, não só para vender, mas também para mostrar os livros mais interessantes, a fim de que o leitor possa, com liberdade, folhear suas páginas, fazer a leitura de algumas informações importantes - e, principalmente, conhecer, mais de perto, sua Excelência, o Livro, a mais notável das conquistas da civilização.

Em 1991, na histórica 1ª Feira do Livro de Bom Despacho, realizada no Salão do Lions Clube, na Praça Irmã Albuquerque, o empresário Victor Alegria, diretor-presidente da Thesaurus Editora, manifestou seu entusiasmo pela expressiva participação das escolas, com seus professores e estudantes, mas explicou que "a Feira do Livro deve ser, principalmente, um evento do povo, com a presença dos donos do posto de gasolina, do armazém da esquina, da padaria, do fazendeiro e da dona-de-casa, porque, de alguma forma ou de outra, todos precisam do livro".

A nossa 6ª Feira do Livro teve um caráter regional, porque ultrapassou as margens dos rios Lambari e do São Francisco, com a participação de Alaor Barbosa, festejado escritor goiano-brasiliense, pronunciando excelente conferência sobre "O regionalismo brasileiro - a obra de Guimarães Rosa"; do poeta Ozório Couto, natural da cidade de Luz, que falou sobre Emílio Moura e Carlos Drummond de Andrade, notáveis poetas da Língua Portuguesa; da psicanalista e escritora Cláudia Coutinho Bernardes, premiada pela Academia Mineira de Letras e moradora de Lagoa Santa, falando sobre "Literatura e criatividade", além do professor Adércio Simões Franco, de Divinópolis, mestre em Literatura pela Universidade Católica do Paraná, que deu uma bela aula de música para o público de Bom Despacho.

De Arinos, noroeste de Minas, onde tem uma propriedade rural, veio um conhecedor das veredas e sertões do Guimarães Rosa: o escritor Napoleão Valadares, presidente da ANE - Associação Nacional de Escritores, sediada em Brasília. Entre as delegações das cidades vizinhas, merecem destaque especial os professores e estudantes de Moema, que prestigiaram diversos eventos da Feira e a simpática visita de membros da Academia de Letras de Lagoa da Prata, com a divulgação de seus livros, especialmente, o ensaio biográfico Otacílio Miranda - Um político diferente, de Antônio Sampaio e Heleno Nunes, além da antologia Lagoa da Prata em prosa e verso, com textos do saudoso historiador Silvério Rocha e outros bons escritores lagopratenses. Como representante da Thesaurus, veio o jornalista e escritor Marco Paulo Haikel, agitador cultural do Maranhão, hoje assessor de imprensa em Brasília.

Entre os escritores de Bom Despacho, os historiadores Orlando Ferreira de Freitas, autor do livro Raízes de Bom Despacho, e Tadeu de Araújo Teixeira, professor e jornalista, enriqueceram o evento com sua parti- cipação na mesa-redonda "Bom Despacho, seu povo e sua história"; o jornalista e professor Itamar de Oliveira autografou seu novo livro de poemas "Fogo amigo", editado em Belo Horizonte. Entre outros, marcaram sua presença o médico e poeta Dr. Celso Ribeiro, as professoras Lídia Alves de Moura e Maria de Lourdes Cardoso, escritoras de Bom Despacho, e Maria do Carmo Castro Guetti, funcionária do Ministério da Educação, em Brasília.

Outro destaque especial entre os escritores bondespachenses foi Wulcino Teixeira de Carvalho, com o seu Bravuras e bravatas de um caipira, interessante livro que tem como cenário a Bom Despacho antiga e algumas de suas figuras mais notáveis. João Batista da Silva na Feira, anunciando a segunda edição de seu biografia do legendário Padre Libério, muito venerado pelo nosso povo.

Como escritor, tive a oportunidade, neste evento de Bom Despacho, de promover uma oficina literária sobre o meu livro O gato de Curitiba - crônicas de viagem; conversei com muitos leitores sobre o Gente de Bom Despacho - histórias de quem bebe água da Biquinha, que terá continuação em novo livro de biografias - e fiz o lançamento, em 2ª edição, do JK - Triunfo e Exílio - Um estadista brasileiro em Portugal, que está à venda nas principais livrarias do País.

Por sua vez, Nilce Coutinho Guerra veio de Brasília, para suas atividades técnicas e artísticas em Bom Despacho, no Museu da Cidade, e promoveu a divulgação de seus livros Palavra de Saci e Vamos brincar, criança, que integram sua coleção Baú de Brincadeiras, editado pela Thesaurus, com apoio da Secretaria de Cultura do Distrito Federal.

Mas, nem tudo são flores num evento de grande porte como foi a Feira do Livro de Bom Despacho e Cidades Vizinhas. Naturalmente, ocorreram falhas e dificuldades, que não foram poucas. Numa primeira avaliação, ainda não estudada com a nossa Comissão Executiva, desejo destacar o seguinte:

1 - a abertura do evento na quinta-feira à noite e as atividades na sexta-feira e no sábado pela manhã constituíram um período muito pequeno para uma grande Feira do Livro.

2 - precisamos de mais recursos e parcerias para 2007, a fim de ampliar a divulgação e conseguir mais público, especialmente de outras cidades.

3 - a venda de livros foi pequena, porque no Brasil quase não existe o hábito de comprar livros: compra-se e vende-se tudo, menos livros; é preciso mudar isto, de alguma forma.

4 - as bibliotecas públicas e escolares, infelizmente muito esquecidas, inclusive em Bom Despacho, precisam conseguir recursos para adquirir livros, principalmente dos escritores da cidade e da região, sobretudo por ocasião das Feiras do Livro como acontece em Porto Alegre, Brasília e outras cidades.

Concluindo, entendemos que a Feira do Livro de Bom Despacho, realizada com êxito em 1991, 97, 98, 99, 2005 e 2006, tornou-se um orgulho da cidade da Senhora do Sol e precisa consolidar-se de maneira mais profissional, como um grande evento das áreas de cultura, educação e turismo. Para isto, precisamos de apoio da Prefeitura e de empresas, instituições e cidadãos interessados e empenhados em fazer do livro da leitura instrumentos e estratégias para o desenvolvimento e a qualidade de vida do nosso povo.

Desta forma, desejamos abrir o debate sobre a questão. Uma proposta, que venho conversando com nossos amigos interessados no assunto, é a criação de uma ONG para realizar os trabalhos de planejamento, captação de recursos e organização da Feira do Livro. Para isto, precisamos organizar idéias e reunir experiências, não só das lideranças de nosso Município, mas, também, de outros bondespachenses e amigos da cidade, que moram em Brasília, Belo Horizonte, Divinópolis e outros lugares mundo afora.

Os chineses já diziam, há milênios, que a marcha de mil quilômetros começa com o primeiro passo. Ao longo dos últimos quinze anos, nossa caminhada já vai longe, mas é preciso atravessar a montanha para ver, com maior clareza, as estradas do futuro, por ainda seguiremos.

- E agora, José?

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Emoção, em Bom Despacho, no Museu da Cidade e na Biblioteca Municipal

Jacinto Guerra

Belo Horizonte. Junho de 2010. Nesse tempo de chuva, frio e vento, deixamos Brasília, com destino a Araguari, no Triângulo Mineiro, para um compromisso familiar carregado da emoção que envolve pais e filhos.

De lá, Nilce e eu seguimos viagem Minas afora, passando por Estrela do Sul, Monte Carmelo, Patrocínio, Ibiá – e, mais adiante, pelos caminhos e horizontes da Serra da Saudade. Cada lugar com seus encantos e surpresas inesquecíveis.

Nosso destino é Bom Despacho, terra de muito bem-querer, onde temos compromissos no Museu da Cidade e na Biblioteca Municipal, na rica e variada programação do Festival de Inverno da cidade que, por sinal, estava bem mais fria que os outros lugares por onde passamos nessa temporada mineira.

Além de receber visitantes, turistas e amigos no Museu da Cidade, compromisso mais de Nilce Coutinho, fundadora e diretora do Museu, e  João Batista de Andrade, presidente da AMC, mantenedora do MdC, tenho outra missão, também importante e honrosa na  Biblioteca Municipal, que tem o meu nome e os meus livros: fazer uma palestra sobre o tema “JK e Brasília – Triunfo e  Exílio de um Estadista”.    

Preparando-me para a conversa com o público, fiquei emocionado com a releitura dos livros e textos sobre o presidente Juscelino Kubitschek, que venho escrevendo e divulgando há mais de vinte anos. Com o tema em estudo, motivos de emoção não faltam, tanto para o escritor como para o leitor. Um deles foi a construção de Brasília, a maior e a mais criativa realização do povo brasileiro. Por outro lado, a cassação dos direitos políticos de Juscelino e de seu mandato de senador foi uma grande injustiça que resultou no exílio e muito sofrimento para o mais querido dos estadistas brasileiros. 

Na manhã de quinta-feira, 3 de junho, preparando-me para a palestra na Biblioteca, recebi um telefonema do meu amigo Ferreira de Andrade, com uma triste notícia: Julio Benigno Fernández, grande amigo e companheiro, falecera, naquela madrugada, em São Paulo, alguns meses depois de mudar-se de Bom Despacho, onde tornou-se  um de nossos cidadãos mais estimados e queridos, sobretudo pela sua atuação em áreas diversas do desenvolvimento da cidade.

De repente, tive a sensação de perder o próprio chão de Bom Despacho, porque se despede de nós um irmão muito querido que veio do interior da Argentina para nos ajudar  a construir o futuro da cidade da Senhora do Sol. Julio era, ao mesmo tempo, um cidadão do mundo e um homem do interior que muito aprendeu em cidades cosmopolitas como Buenos Aires, na Argentina, e São Paulo, no Brasil. Todos nós estamos de luto, principalmente o Museu da Cidade, a Biblioteca Municipal, os empresários, os amigos da arte e da cultura, enfim, toda a cidade, que ele tanto amou.

Com este acontecimento inesperado, de início senti-me sem condições emocionais de fazer a palestra no mini-auditório da Biblioteca. Depois entendi que a melhor forma de homenagear Julio Benigno e Juscelino Kubitschek era dominar a emoção e cumprir da melhor forma possível o meu compromisso do momento com a cultura em minha cidade.

Depois da visita ao Museu, instituição em que Julio fez História, juntamente com outros companheiros, inauguramos na Biblioteca uma rica exposição sobre JK. Antes da palestra sobre o criador de Brasília, o auditório prestou um minuto de silêncio em homenagem a Julio Benigno, seguido de palavras a respeito de sua vida e sua obra, reverenciadas com uma vigorosa salva de palmas. 

Em seguida, desenvolvi o tema da palestra sobre JK para o público que lotou o pequeno auditório da Biblioteca, inclusive uma representação de Lagoa da Prata e Santo Antônio do Monte. Fiquei honrado com a presença de autoridades da área cultural, além de advogados, empresários, professores, artistas e outros cidadãos. Entre os jovens, destacou-se um grupo de estudantes de Direito.

O público teve uma boa participação, trocando ideias e informações sobre o tema da palestra, inclusive cantando o “Peixe Vivo”, canção folclórica que encantava Juscelino e seus admiradores pelo Brasil afora.

Além de aspectos de grande importância na biografia de Juscelino, que tive a oportunidade de estudar, em Brasília, como pesquisador do Memorial JK, fiz questão de comentar a presença do grande estadista na memória de cidadãos de Bom Despacho, entre os quais Geraldo Fidelis, Hugo Teixeira Leite e Geraldo Mascarenhas. Depois, lembrei-me, também, que a farmacêutica Juventina Guerra foi colega de Juscelino Kubitschek, em aulas comuns de Medicina e Farmácia, na antiga Faculdade de Medicina de Belo Horizonte, que se incorporou à UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais.

Por outro lado, vários militares de Bom Despacho conheceram, na Revolução de 1932, o jovem capitão-médico Juscelino Kubitschek, entre os quais o soldado José Pedro Barbosa, mais conhecido como José Pedro Comunista. Tudo isto o leitor encontra no meu livro “Gente de Bom Despacho – histórias de quem bebe água da Biquinha”, além da rica biografia de Julio Benigno Fernández, natural de Concepción, província de Tucumán, Argentina.   

Uma situação surpreendente me deu condições de falar de forma agradável e interessante. Foi uma palestra que recebeu muitos aplausos, seguida de um rico debate sobre educação, cultura, desenvolvimento e democracia. O certo é que valeu a pena voltar à Biblioteca Municipal de minha terra, que, em 2009, comemorou 45 anos de bons serviços à educação e à cultura de nossa cidade. Com isto, lembramos a frase de Monteiro Lobato escolhida para símbolo de nossa Biblioteca: “Um país de faz com homens e livros.”

     (Texto publicado originalmente no Jornal de Negócios, de Bom Despacho – MG)

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Nota Biográfica

Jacinto Guerra  é natural de Bom Despacho-MG. (16-7-1935) Bacharel em Letras pela UFMG, com pós-graduação na área de Educação pela PUC| de Minas Gerais, além de cursos  de Extensão Universitária, em Brasília,  na UnB,  e na Universidade de Évora, Portugal.

Viveu sua infância em Moema e Lagoa da Prata, cidades muito presentes em suas memórias literárias.
Professor e administrador escolar, destacou-se como educador em  Bom Despacho, Patos de Minas e Belo Horizonte. Em Brasília desde 1980, foi assessor  do Ministério da Justiça, Memorial JK e Secretaria de Cultura do Distrito Federal.

Em sua terra natal, foi comerciário, radialista, diretor de um jornal, vereador e presidente da Câmara Municipal. Bibliófilo e incentivador da leitura,  é  o fundador da Biblioteca Municipal, que hoje tem o seu nome. Foi o primeiro presidente do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural.  Aluno de diversos cursos de Museologia promovidos pelo Ministério da Cultura, ainda em Bom Despacho, fundou o Museu da Cidade, em parceria com sua esposa, Nilce Coutinho Guerra, professora e artista plástica.

Secretário de Cultura e Turismo de Bom Despacho no período 1997-2000 , desenvolveu importantes projetos em áreas diversas da cultura, inclusive de âmbito internacional como as apresentações, na cidade, da Orquestra Strauss, de Viena, Áustria, além do Projeto de Intercâmbio entre Bom Despacho e Vila Verde, na região do Minho, Portugal.

A cultura luso-brasileira está muito presente em sua obra, especialmente  em contos, crônicas e ensaios:, destacando-se “O vinho da Ilha do Pico”, “De Lisboa ao Porto nos caminhos do mar”, “E Deus escolheu Sintra para criar belezas”.

Cronista, jornalista e historiador, tem trabalhos publicados no Brasil e em  Portugal, especialmente na revista eletrônica Nós Fora dos Eixos, de Brasília, no Via Fanzine, de Itaúna-MG, e no site de Aboim da Nóbrega, Vila Verde, Portugal.

É autor de vários livros, entre os quais Gente de Bom Despacho - histórias de quem bebe água  da Biquinha ( 2004, 2ª edição);  O gato de Curitiba - crônicas de viagem e outras histórias(2004, 2ª edição),
Prêmiio BDMG Cultural / Banco do Desenvolvimento de Minas Gerais): JK - Triunfo e Exílio - Um estadista brasileiro em Portugal (2005, 2ª edição), Uma casa navega no mar - contos, crõnicas e pequenos ensaios (2008) e O cavaleiro andante - do Pacífico ao Mar Egeu, viagens mundo afora (2010).